A cada segundo que o relógio do "Apocalipse" se movimenta em direção à meia noite, aumenta o risco de uma catástrofe nuclear ou ambiental
O planeta está a 90 segundos da hora do Apocalipse, de acordo com o Relógio do Juízo Final – o Doomsday, no original em Inglês – que aponta há sete décadas o nível de risco de destruição por armas nucleares.
Trata-se, na verdade, de um relógio simbólico, mantido desde 1947 pelo comitê de diretores do Bulletin of the Atomic Scientists, da Universidade de Chicago. O dispositivo utiliza uma analogia onde o mundo está a “minutos para a meia-noite”, onde esse horário representa a destruição por uma guerra nuclear, que seria travada pelas grandes potências. Uma versão física do relógio pode ser vista na Universidade de Chicago.
Este ano, os cientistas acertaram os ponteiros do relógio nesta terça-feira (24/01). Foi a primeira atualização desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro do ano passado, que reavivou o medo de um desastre nuclear. Em 2007, os organizadores também incluíram a questão ambiental como mais uma ameaça ao planeta , diante do risco de mudanças climáticas acentuadas, que resultem em inundações e outras catástrofes. Aqui está o que você deve saber sobre o relógio metafórico:
Não é um relógio real – é um símbolo desenhado pelo Bulletin of the Atomic Scientists, apresentando um quarto de relógio, com ponteiros que servem como uma metáfora para “quão perto estamos de destruir nosso mundo”. A organização atualiza a configuração dos ponteiros a cada ano – agora, o relógio está no ponto mais próximo da meia-noite desde a sua criação em 1947.
Na época, o símbolo do relógio foi concebido como uma analogia para a ameaça de guerra nuclear, estimulada pela corrida armamentista da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética. Os cientistas originalmente por trás do relógio incluíam alguns que haviam participado do Projeto Manhattan, que produziu a primeira bomba atômica do mundo e resultou na destruição de Hiroshima e Nagasaki, no Japão.
O conselho de ciência e segurança do Boletim decide a configuração do relógio. A decisão é tomada depois que pesquisadores e acadêmicos avaliam tendências como o número de armas nucleares no mundo, a taxa de aumento do nível do mar e os esforços do governo, diz a organização. “Não é um modelo cuspindo um número. É um julgamento entre especialistas sobre se a humanidade está mais segura ou em maior risco” em comparação com o ano anterior e com configurações anteriores na história do relógio, disse Rachel Bronson, diretora executiva do Boletim.
Os críticos o descartaram como alarmista ou questionaram sua utilidade e a metodologia. Em um ensaio de 2015, um pesquisador da Universidade de Oxford, especializado em risco catastrófico global, lançou dúvidas sobre o relógio como uma medida de “risco real”, escrevendo que era mais um reflexo do “forte sentimento de urgência” sobre os riscos entre a equipe que operá-lo.
O relógio foi acertado para 100 segundos em janeiro de 2020, a primeira vez que ultrapassou a marca de dois minutos desde sua criação. E agora foi atualizado para 90 segundos, refletindo uma visão “de que estamos presos em um momento perigoso”, disse a organização.
O Boletim citou o aumento do risco nuclear, o aquecimento global e a pandemia de coronavírus em suas decisões recentes, bem como a disseminação de ataques cibernéticos e desinformação. O relógio estava mais longe da “meia-noite” em 1991, quando recuou para 17 minutos depois que a Guerra Fria foi oficialmente declarada encerrada.
No ano passado, o conflito na Ucrânia levou ao aumento das tensões entre Washington e Moscou e a bombardeios perto da maior usina nuclear da Europa.
“O que estamos vendo é o desmoronamento da ordem internacional… quando dois países que controlam os maiores arsenais nucleares do mundo estão em desacordo”, disse Bronson. “E o que estamos tentando dizer é que realmente precisamos encontrar uma maneira de conter esta crise”, alerta a cientista.