Êxodo neste ano inclui grande número de jovens que abandonam o país por falta de perspectivas
Cerca de 250 mil cubanos entraram nos Estados Unidos, só em 2022. Esse número é o dobro do maior êxodo registrado até agora, em apenas um ano, que ocorreu em 1980, quando 125 mil cubanos partiram do porto de Mariel.
O êxodo atual tem uma característica sombria em termos demográficos: é grande o número de jovens que abandonam o país, fato que cria um problema adicional para o governo. Se, atualmente, o governo mal consegue pagar as magras pensões de que a população idosa depende, quem vai trabalhar e recolher para garantir essas pensões no futuro? A expectativa de vida é de 78 anos e o país tem cada vez mais idosos.
Por sua vez, Elaine Acosta Gonzalez, pesquisadora da Universidade Internacional da Flórida, alerta para o despovoamento do país: “A saída de cubanos é devastadora”, afirma a professora, referindo-se à redução da força de trabalho na ilha e a saída dos mais jovens que deveriam construir o futuro do país.
A escassez de alimentos e o aumento nos preços, provocados pela crise internacional e pela pandemia, estão entre as principais causas do êxodo. Esse fato é agravado pela falta de empregos e de perspectivas para os mais jovens. Desde o início da pandemia, o setor de turismo, a principal fonte de recursos de Cuba, sofreu uma queda brutal.
Mas o quadro atual é mais complexo. No governo do ex-presidente Donald Trump, os cubanos residentes nos Estados Unidos passaram a enfrentar restrições para o envio de remessas de dinheiro para Cuba. Muitas famílias viviam praticamente desses recursos. Além disso, Trump reverteu a política de aproximação iniciada por Barack Obama, que incluía melhores relações diplomáticas e permissão para viagens de norte-americanos a Cuba. Esta mudança foi mais um fator que afetou o turismo, além da pandemia.
“Se você devastar um país vizinho com sanções, as pessoas virão à sua fronteira em busca de oportunidades econômicas”, disse Ben Rhodes, que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, no governo Obama.
A fuga do país ficou mais fácil desde que a Nicarágua deixou de exigir visto para cubanos. Milhares venderam suas casas e partiram para Manágua, de onde recorrem a “coiotes” para chegar aos Estados Unidos.
Outro caminho é via Panamá, onde os coiotes chegam a cobrar 6 mil dólares ( mais de 30 mil reais) para levar uma pessoa até a fronteira dos Estados Unidos, passando por vários países da América Central.
Em março, o motorista de táxi Joan Cruz Mendez, comprou uma passagem de avião para sua mulher e ela embarcou para o Panamá. De lá, com ajuda dos coiotes, ela conseguiu entrar nos Estados Unidos, onde conseguiu emprego. Ela trabalha numa loja de autopeças, em Houston, no Texas.
Apesar da vigilância da guarda-costeira, ainda há aqueles que tentam aproveitar as noites de mar calmo, para se aventurar em precárias embarcações e atravessar os mais de 100 quilômetros que separam a ilha do território norte-americano, na Flórida. É assim que Mendez espera chegar aos EUA, para se reencontrar com sua mulher.