Pesquisadora mostra que a ansiedade tornou-se um problema na atualidade principalmente por seu estigma de "doença"
A ansiedade tornou-se uma preocupação generalizada na sociedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os transtornos de ansiedade são os mais comuns dos diagnósticos de saúde mental atualmente, mais do que a depressão e o vício, por exemplo. Não à toa as buscas no Google pela palavra cresceu mais de 300% desde o ano de 2014.
A OMS alerta que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo ainda serão diagnosticadas com um transtorno de ansiedade em sua vida. Os altos índices de ansiedade no mundo não são uma descoberta recente. Entretanto, tem se estudado cada vez as causas e as dificuldades dos profissionais da saúde de lidarem com o transtorno.
A psicóloga da Universidade da Cidade de Nova Iorque, Tracy Dennis-Tiwary, defende em seu livro, “Future Tense”, que os diagnósticos, análises e pesquisas têm se enganado sobre a natureza da ansiedade no passado, e que este mal-entendido prejudicou o tratamento da ansiedade na atualidade. Segundo ela, é possível entender e viver com a ansiedade no século 21, usando ela a seu favor.
A pesquisadora explica que apesar de existir a falsa ideia de que as emoções negativas, como a ansiedade, sejam destrutivas, estudos como “A Expressão da Emoção no Homem e nos Animais”, de Charles Darwin, já explicavam que estas emoções são mais vantajosas que perigosas.
Assim como a linguagem, e o polegar opositor, as emoções são essenciais para a sobrevivência, já que foram desenvolvidas durante a evolução da espécie humana para garantir a sobrevivência e reprodução.
A ansiedade, segundo Tracy, funciona tanto oferecendo informações como na criação de estratégias de preparação. Diferentemente do medo, que prepara o indivíduo para situações de luta ou fuga, a ansiedade prepara para a persistência: “Faz a pessoa permanecer vigilante e agir de forma a evitar desastres futuros, mas também pode tornar possibilidades no futuro positivas”, explica em um artigo recém-publicado.
Dessa forma, ao criar possibilidades sobre como lidar com situações no futuro, a ansiedade faz com que o cérebro tenha maior foco e maior eficiência, propondo soluções mais criativas e inovadoras. Foi o que mostrou os resultados de uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia.
Além disso, a ansiedade também é responsável por ativar os impulsos por recompensa, tornando as pessoas mais produtivas e com maior interesse por conexões sociais. Assim, como defende Tracy, na perspectiva da teoria evolutiva a ansiedade não é destrutiva, mas um padrão lógico de sobrevivência.
Apesar disso, como defende a pesquisadora em seu livro, esta vertente sobre a ansiedade ainda não chegou ao conhecimento de muitos profissionais da saúde, como não faz parte hoje da consciência coletiva. A ansiedade é tratada como um inimigo a ser combatido, e não como um aliado em potencial. Para Tracy, o problema é que a ansiedade tornou-se um termo de mal-estar geral, provocando um sentimento de urgência em erradicá-la ou preveni-la.
A ansiedade transforma-se em transtorno quando ela passa a impactar diretamente no cotidiano, paralisando atividades e ações, momento em que ela deve ser tratada como uma doença. Em todos os outros casos, a pesquisadora defende que a ansiedade deve ser considerada saudável e normal, e até benéfica. “Essa metáfora da ‘doença’ nos prende em vez de nos libertar porque nos leva a confundir a ansiedade normal com um distúrbio e a temer, evitar e suprimir quaisquer sentimentos ansiosos assim que os experimentamos”, afirma.