COMPORTAMENTO

Mudança nos EUA. Jovens voltam para a casa dos pais

Alta no custo de vida ou relações afetivas reduzem a expectativa de morar sozinhos

Da redação | 11 de outubro de 2022 - 18:40

The New York Times

A expressão “empty ness”, ou ninho vazio, sempre foi, para muitos pais, nos Estados Unidos, um pesadelo ou, no mínimo, uma preocupação que se instala desde a transição dos filhos da infância para a adolescência. É o momento em que os jovens entram para a faculdade e dizem “Adeus”. O momento esperado pela maioria dos jovens, que não veem a hora de conquistar a liberdade e sair do ninho.

Agora, os tempos são outros. Seja por motivos financeiros ou afetivos. Com o aumento no custo de vida, muitos estão voltando para a casa dos pais, ou avós, ou nem chegam a sair. De acordo com uma pesquisa recente da Credit Karma, plataforma de finanças pessoais, quase um terço dos americanos de 18 a 25 anos vive em casa com os pais ou com outros parentes. “Estamos vendo netos adultos vivendo cada vez mais com avós”, diz Donna Butts, diretora executiva da Generations United, organização sem fins lucrativos com sede em Washington e que promove políticas para conectar gerações.

Há um ano, Robert Elson , corretor imobiliário em Nova York, passou a lidar com uma nova rotina em seu apartamento no Upper West Side. A mudança ocorreu com a chegada da neta Madeline, que começou a estudar na Escola do Clima, da Universidade de Columbia. “Ela foi aceita no programa. Essa foi a boa notícia. A má notícia foi que os pais dela nos contaram que Madeline estava tendo problemas com moradia e alimentação. Dissemos a eles: ‘Bom, estamos aqui. Temos um quarto extra. Por que ela não vem ficar com a gente?'”, disse Elson, de 82 anos. Essas pessoas com quase seis décadas de diferença de idade, agora, dividem um apartamento.

Mudança nos EUA

Robert Elson e sua neta, Madeline David, em Agosto de 2022. (Foto: Clark Hodgin/The New York Times)

Os netos e os avós têm necessidades diferentes. Os jovens, ainda na escola ou em empregos de baixa remuneração, buscam moradia acessível que esteja de acordo com seus padrões. Ou acabam pedindo a ajuda de pais ou avós.

Sozinho, não!

“A maioria dos idosos quer envelhecer na própria casa, e precisam de ajuda para isso”, disse Rachel Margolis, professora associada à sociologia da Universidade de Ontário, no Canadá , que estuda a demografia dos avós.

June Iseman, de 90 anos, por exemplo, divide seu apartamento no Upper East Side com sua neta Ally Iseman. “O fato de minha neta morar comigo significa que não estou sozinha. Mesmo que durma até as 11 e trabalhe ao meio-dia, o importante é que ela está aqui. Como não estou 100% bem de saúde, isso é uma coisa boa.”

Mudança nos EUA

June Iseman e sua avó, Ally Iseman, em Agosto último.  (Foto: Clark Hodgin/The New York Times)

Claro, não dá para encontrar netos no Craigslist (rede de comunidades online famosa nos EUA para divulgar anúncios). Aqueles que escolhem esse arranjo de vida têm uma longa história e uma ligação estreita.

“Fique por algumas semanas”
Mudança nos EUA

Lucille Kantor e seu neto, Adam Kantor, em Julho de 2022. (Foto: Clark Hodgin/The New York Times).

Adam Kantor foi criado em Great Neck, Nova York, a cinco minutos de distância de seus avós paternos, Lucille e Martin.

Em 2000, durante seu primeiro ano de faculdade, o jovem ator conseguiu, em Manhattan, um dos papéis principais em “Rent”. “Subloquei um espaço por alguns meses e, quando a temporada da peça acabou, decidi ficar em Nova York por algum tempo. Minhas avós tinham um pequeno quarto de hóspedes. Planejei lá por algumas semanas, mas acabou sendo muito mais”, diz ele.

O jovem começou a alugar o estúdio durante a pandemia do coronavírus e, recentemente, se juntou a alguns amigos para alugar casa no Brooklyn. “Subloco meu quarto, porque tenho algumas peças feitas fora da cidade.” Ele poderia ter se instalado em outro quarto de hóspedes, mas, em vez disso, prefere ficar com a avó. “Meu relacionamento com ela é muito precioso para mim”, afirma.

Tradições

Para alguns netos, morar com os avós é uma tradição familiar consagrada. Quando Jessica Weis se formou na Universidade Estadual de Michigan, em 2011, e mudou para o tríplex de propriedade de sua avó, Pat Hartsell, em um subúrbio de Detroit, foi recebido por um primo que havia acabado de ser instalado lá. Outros oito primos já foram moradores com a avó. Quando Weiss saiu da casa da avó para alugar um apartamento com amigos, cedeu o lugar a seu irmão mais novo, Jacob.

Ela afirma que ficar na casa da avó foi a primeira vez que ficou “sozinha”. “Nossa avó era nossa terceira colega de quarto. E ela era a mais maluquinha”, afirmou Weiss, agora com 33 anos e diretora de publicidade.

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