Na sologamia, o compromisso é amar a si mesmo antes dos outros
Em 2011, dez mulheres espanholas se reuniram na cidade de Bilbao para declarar publicamente o seu amor próprio e cada uma casou-se consigo mesma. De lá para cá muitas outras cerimônias se repetiram em vários países do mundo e o casamento sem cônjuge vem ganhando novos adeptos.
Para os amantes da sologamia (o casamento de uma pessoa com ela mesma ou autocasamento), a descoberta da alma única parece ser o começo de uma grande história de amor. A proposta é assumir publicamente o compromisso de amar a si mesmo antes dos outros.
Os mais conservadores dirão que esse amor próprio foi longe demais, mas para quem vive a realidade do autocasamento é apenas uma maneira diferente de buscar a felicidade.
A influencer e modelo Cristiane Galera, de 33 anos, fez a opção pela sologamia em agosto de 2021. “Fiz por amor próprio, estou me amando tanto que não consigo sentir algo por outra pessoa. Eu não ficarei desapontada, não trairei minha confiança e me amarei acima de tudo”, declarou a modelo na época ao jornal New York Post.
Cristiane Galera, antes da autoseparação: “Não consigo sentir algo por outra pessoa”. Mas durou pouco. (Foto: Instagram)
Depois de dizer “sim” para si mesma, Galera disse em uma rede social que a notícia tinha causado uma explosão dentro e fora do Brasil. “Estou recebendo milhares de mensagens de homens e mulheres do mundo inteiro querendo se casar comigo”, gargalhou a influencer. “É uma pena, porque eu não vou me divorciar de mim tão cedo”.
É, mas o casamento durou apenas três meses. Depois do sucesso estrondoso, a estrela que brilha em uma plataforma de conteúdo adulto vendendo fotos e vídeos sensuais, anunciou que estava se separando de si mesma para desfilar no carnaval e porque estava se gostando de uma outra pessoa.
O casamento sologâmico normalmente segue os padrões convencionais, com direito à cerimônia com convidados, padrinhos ou madrinhas, e realizado em casa, salão de eventos ou em um ambiente público, como uma praça. Até aí, um casamento como qualquer outro.
Mas, na vida prática, especialistas em direito de família explicam que o casamento sologâmico não tem efeito jurídico. É apenas uma cerimônia simbólica, pois, para todos os efeitos, o noivo ou a noiva de si mesma continua solteiro e não se enquadra nas regras de um casamento tradicional.
Dessa forma, quem uma vez casou-se consigo mesmo pode muito bem casar-se novamente com outra pessoa sem nenhum procedimento judicial ou extrajudicial.
A única repercussão jurídica que pode ser estendida ao casado solo (com base no conceito de família unipessoal ou família “single”, mas que não está vinculado ao casamento sologâmico) é a garantia de impenhorabilidade do bem de família em relação à pessoa que vive sozinha, neste caso, solteiras, divorciadas ou viúvas.
Mas é somente isso. Juridicamente, quem casa consigo mesmo, de acordo com a lei brasileira, continua solteiro. Para a proteção absoluta de um casamento, o vínculo afetivo é fundamental para a configuração de uma entidade familiar, o que pressupõe o relacionamento com uma outra pessoa.
