Para um possível acordo de paz, Kiev exige a desocupação de todos os territórios, inclusive a Crimeia que a Rússia anexou em 2014
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que seu país não abrirá mão de nenhum território ocupado ilegalmente pela Rússia. Isso inclui a exigência de que Moscou retire suas tropas da Crimeia, ocupada em 2014, e de outras regiões da Ucrânia anexadas após o início da guerra.
Kuleba definiu o conflito militar como “uma ferida sangrenta no meio da Europa” e pediu que todo o território ucraniano seja tratado igualmente. O pronunciamento foi feito durante por link de vídeo na Conferência de Segurança do Mar Negro, que aconteceu direto de Bucareste, na Romênia.
“Estamos unidos pelos princípios da carta da ONU e pela convicção compartilhada de que a Crimeia é a Ucrânia e retornará ao controle da Ucrânia”, disse Kuleba. “Toda vez que você ouve alguém de qualquer canto do mundo dizendo que a Crimeia é de alguma forma especial e não deve ser devolvida à Ucrânia, como qualquer outra parte do nosso território, você precisa saber uma coisa: a Ucrânia discorda categoricamente dessas declarações”, reafirmou o chanceler ucraniano.
Basicamente, para aceitar um tratado de paz, o Kremlin exige que Kiev reconheça a soberania da Rússia sobre o território da Crimeia e também reconheça formalmente a anexação das províncias ucranianas de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia, invadidas em setembro de 2022.
As negociações não avançam porque a Ucrânia rejeita essas exigências e a Rússia não aceita recuar nas condições para o encerramento da guerra. Por essa razão, o governo de Volodymyr Zelensky suspendeu as negociações de paz até que as tropas de Moscou se retirem de todos os territórios ocupados.
Analistas internacionais dizem que o conflito na Ucrânia tornou-se uma guerra de desgaste, onde nenhum dos lados consegue ganhar impulso durante o inverno e a principal estratégia é recorrer a bombardeios de longo alcance.
Uma preocupação permanente é a usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, ocupada pelos russos, e que vem sendo usada como base militar. O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica Rafael Grossi reconheceu que as tropas russas estão minando o perímetro da usina. Recentemente, duas minas explodiram perto de uma sala de geração de um dos reatores da usina.
“Em um momento de crescente especulação sobre ofensivas e contraofensivas militares na região, é mais importante do que nunca concordar que uma usina nuclear nunca deve ser atacada, nem usada para lançar ataques contra o inimigo”, destacou Grossi.
A usina nuclear é a maior da Europa. Os seis reatores foram desativados no ano passado. A agência de energia atômica da ONU tenta há meses fechar um acordo entre a Ucrânia e a Rússia para proteger a usina, cujos reatores e outros equipamentos ainda dependem do fornecimento externo de eletricidade para operar os sistemas de segurança.