Equipados com câmeras e sensores, tubarões guiam cientistas até o local, nas Bahamas
Estima-se que a flora marinha recém-mapeada nas Bahamas tenha cerca de 92 mil quilômetros quadrados e provavelmente será um dos maiores depósitos de carbono do mundo. Para chegar lá, os cientistas contaram com a ajuda de tubarões-tigres, que levavam câmeras e sensores eletrônicos instalados na pele. Trata-se do maior ecossistema de flora e ervas marinhas já registrado, de acordo com autores de um artigo publicado na Revista Nature Communications.
“Se protegidas, essas ervas marinhas podem desempenhar um papel crucial na desaceleração da emergência climática, à medida que o mundo se move para implantar uma gama diversificada de estratégias para capturar carbono da atmosfera”, disse Austin Gallagher, cientista principal da pesquisa e executivo-chefe da organização sem fins lucrativos Beneath the Waves. “Esta descoberta deve nos dar esperança para o futuro de nossos oceanos”.
Ecossistemas marinhos e costeiros, como ervas marinhas, manguezais e pântanos salgados, capturam e armazenam dióxido de carbono da atmosfera, que aquece o planeta, a uma taxa mais rápida do que as florestas do planeta. Os cientistas estimam que as ervas marinhas representam cerca de 17% do carbono total existente em sedimentos marinhos todos os anos. Isso torna a conservação desses habitats uma parte essencial do esforço global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a fim de diminuir o ritmo do aquecimento global.
Os oceanos do planeta, e principalmente os ecossistemas de ervas marinhas, permanecem mal mapeados em muitas regiões, principalmente devido às dificuldades de medi-los com dispositivos de sensoriamento remoto, como satélites, disseram os autores. Do espaço, as floras marinhas podem ser facilmente confundidas com fitoplâncton, algas ou sedimentos.
A incerteza em torno da área de cobertura total de ervas marinhas no mundo torna muito mais difícil estimar a capacidade do oceano de capturar carbono, disse a revista.
Para conduzir a pesquisa, os autores adotaram uma abordagem inovadora e reuniram cientistas, mergulhadores, conservacionistas, moradores locais, historiadores – e tubarões-tigre, o maior predador marinho encontrado em mares tropicais. Os pesquisadores logo descobriram que os tubarões apresentavam vantagens sobre satélites e humanos.
“Os tubarões-tigre passam cerca de 72% do seu tempo patrulhando os leitos de ervas marinhas, que podem ser observados pelas câmeras de 360 graus que implantamos”, disse Carlos Duarte, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah, na Arábia Saudita. “Os tubarões-tigre cobrem cerca de 70 km em um dia, podem trabalhar conosco 24 horas por dia, 7 dias por semana – sem nenhuma reclamação registrada – e não são limitados, como os mergulhadores humanos, a profundidades rasas”.
Check our new paper, led by @DrAustinG from @beneaththewaves reporting the characterization of the largest seagrass ecosystem in the Ocean: The Bahamas Bank
Our finding was supported by Tigger Sharks who showed us the seagrass pic.twitter.com/1WD7qZ03F2
— Carlos Duarte (@carlosduartephd) November 1, 2022
Integrating spatial estimates, remote sensing, & ground-truthing with 2,542 diver surveys, with data obtained from tiger sharks, this study characterizes the world’s largest seagrass ecosystem in The Bahamas.@drausting @beneaththewaves @carlosduartephdhttps://t.co/449jyKZ5Zf
— Nature Communications (@NatureComms) November 1, 2022