Governo taiwanês aponta semelhanças entre seu país e Ucrânia na preservação de territórios
O governo de Taiwan doou mais de US$ 30 milhões em ajuda humanitária para a Ucrânia, informou a presidente do país, Tsai Ing-wen. A maior parte dos recursos veio de doações da população sensibilizada pelos efeitos da guerra. Taiwan também aderiu às sanções econômicas adotadas pelo Ocidente contra a Rússia após a invasão da Ucrânia, em fevereiro deste ano.
Ao participar da Cúpula da Concórdia, em Nova York, Tsai Ing-wen disse que Taiwan está orgulhosa dos esforços realizados para ajudar a Ucrânia a defender-se dos ataques injustos das tropas russas ao país.
Taiwan demonstra empatia em relação à guerra na Ucrânia em razão dos claros paralelos existentes entre os dois países, uma vez que o governo de Taipei vive sob a perspectiva de uma invasão militar da China, que considera a ilha como extensão de seu território.
A Cúpula da Concórdia reúne países asiáticos em defesa da democracia, e é realizada simultaneamente à Assembleia Geral da ONU. Taiwan tem um status político controverso. Não é membro da ONU porque a China trata a ilha como uma de suas províncias e não o reconhece como um Estado independente e soberano. A ilha não é um país reconhecida como país pelos organismos internacionais, mas também não está subordinado ao governo de Pequim na China continental.
“Temos que nos educar sobre a cartilha autoritária e entender que a democracia de Taiwan não será a única coisa que a República Popular da China busca extinguir”, afirmou, Tsai, fazendo referência à adesão de outros países em favor da democracia em Taiwan.
“Garantir a democracia de Taiwan é imperativo para garantir a liberdade e os direitos humanos para nosso futuro coletivo”, concluiu a presidente.
Taiwan tem um governo próprio desde 1949, após uma intensa guerra civil entre comunistas e nacionalistas que começou em 1927. O Partido Comunista Chinês de Mao Tse-Tung venceu o confronto e assumiu o poder na China.
Com a ascensão do Partido Comunista, o então líder da China, Chiang Kai-Shek, fugiu com aliados políticos para o território vizinho, onde hoje é Taiwan, e formou um governo paralelo.
Devido à origem comum, Taiwan e China mantêm muitas semelhanças. O mandarim, é o idioma oficial falado na ilha, além, é claro, da identidade cultural.
Taiwan se autodenomina “República da China”, enquanto a China continental é a “República Popular da China”.
Durante muito tempo os dois países disputaram internacionalmente o título de legítimo herdeiro do governo chinês. Em 1970, a Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais reconheceram a China continental como legítimo representante do governo chinês.
Os Estados Unidos também não reconhecem a independência de Taiwan. A diplomacia americana trabalha com o conceito de “China única”. Mas há tempos os americanos prestam assistência técnica e militar à ilha e defendem que Taiwan deve ter autonomia para estabelecer um governo próprio, o que esgarça ao limite a relação diplomática com o governo de Pequim.
Nas últimas décadas, a economia de Taiwan firmou-se como uma das dez mais importantes da Ásia. A ilha se destaca principalmente pela fabricação de produtos de alta tecnologia, como chips e outros componentes eletrônicos, e abriga uma unidade da Foxconn, a indústria que fabrica os iPhones da Apple.
Bem longe da disputa política, Taiwan e China mantêm relações comerciais consideráveis. Para se ter uma ideia, em 2021, a ilha exportou para a China continental o equivalente a US$ 120 bilhões em produtos.
Em agosto deste ano, o país foi destaque no noticiário internacional com a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi. Em represália, o governo chinês realizou exercícios militares de grande expressão e alertou os Estados Unidos para que não “brinque com fogo”.
Desde a Guerra Fria, nos anos 1950, os Estados Unidos mantêm uma relação de proximidade econômica e de cooperação militar com Taiwan. Além disso, Taiwan tornou-se um fator geoestratégico na medida em que crescem as disputas comerciais entre Estados Unidos e China. Os dois países disputam o protagonismo econômico e tecnológico.
Nos últimos dias, uma declaração do presidente norte-americano Joe Biden estremeceu ainda mais as relações entre os dois países. Biden afirmou que os Estados Unidos responderiam em caso de ataque a Taiwan.
A reação foi imediata e o governo de Xi Jinping fez novo alerta aos americanos para que não passem uma mensagem errada à ilha de Taiwan porque as consequências seriam seríssimas.
Os temores de que China e Taiwan travem um choque militar são crescentes, mas os analistas são unânimes ao afirmar que qualquer confronto envolvendo a China seria má notícia para a estabilidade no mundo inteiro.
E, dificilmente, algum país pagará para ver.