Vazamento de dados do Pentágono indica ampliação de área de influência de Moscou e Pequim
O vazamento de documentos dos serviços de inteligência dos EUA expôs detalhes da geopolítica internacional, que apontam para o interesse de Rússia e China em se firmarem como protagonistas na América Latina e Caribe.
Os vazamentos indicam que o governo russo tentou usar a oferta do Brasil para mediar a guerra na Ucrânia a seu favor. No início do ano, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou a enviar armas para a Ucrânia e defendeu uma solução negociada para a guerra. Mas o país recebeu muitas críticas por responsabilizar igualmente Rússia e Ucrânia pela guerra, bem como por ter proposto que a Ucrânia renunciasse às reivindicações territoriais da Crimeia, que a Rússia anexou ilegalmente em 2014.
Os documentos secretos informam que o governo brasileiro planejava enviar um enviado a Moscou para discutir o plano no início de abril. E enviou, no final de março, Celso Amorim, assessor de Lula, para conversar com o presidente russo, Vladimir Putin, embora não tenham sido vazados os resultados dessa visita. A proposta do Brasil para que a Ucrânia abra mão da Crimeia não foi aceita pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que repudiou a sugestão.
“Vejo isso mais como uma espécie de diplomacia oportunista do que qualquer outra coisa”, afirmou Evan Ellis, pesquisador de Estudos Latino-Americanos do Instituto de Estudos Estratégicos do War College do Exército dos EUA ao avaliar a tentativa de mediação brasileira. Ellis relembra que há um padrão latino-americano tradicional de não se envolver na política internacional a menos que haja algum benefício para os países locais.
Dados que foram parar em redes sociais revelam que mercenários russos do grupo Wagner, ligado ao Kremlin, planejavam lançar um plano para fornecer segurança no Haiti, depois que as negociações lideradas pelos Estados Unidos, para formar uma força multinacional de combate a escalada da violência de gangues armadas no país, não deram qualquer resultado.
Os vazamentos trouxeram à tona negociações secretas entre China e Nicarágua para construir um porto de águas profundas em Bluefields, na costa caribenha do país. O relatório informa que a China Harbor Engineering Company iniciou negociações para realizar pesquisas iniciais no local e discutir operações futuras desde meados de 2022.
Documentos ultraconfidenciais revelaram que a China está se beneficiando da guerra na Ucrânia para aumentar sua influência em países que dependem de parcerias de segurança com Moscou, como é o caso da Nicarágua.
Autoridades americanas encaram essas incursões da Rússia e da China no hemisfério ocidental com preocupação, uma vez que os dois países fortalecem ameaças simbólicas contra os Estados Unidos. De acordo com a avaliação do Pentágono, a América Latina e o Caribe estão em um nível sem precedentes de crise política e econômica com muitos estados diferentes, que oscilam no limite se continuarão sendo regimes democráticos transparentes ou se descambarão para governos mais radicais.
O vazamento de dados mostrou que o Egito, aliado dos EUA no Oriente Médio, planejou fornecer, secretamente, 40 mil foguetes para a Rússia, com o agravante de que o presidente egípcio Abdel Fatah El-Sisi instruiu autoridades a manterem a produção e o envio em segredo para evitar problemas com o Ocidente.