Seca severa afeta setores como a agricultura, comércio, indústria e transporte fluvial
Da Floresta Negra, na Alemanha, até o litoral do Mar Negro, na Romênia, o Rio Danúbio percorre 2.898 quilômetros, num percurso que entrou para a história da Europa, não apenas da política, mas também da economia e das artes. Mas, hoje, esse rio, por onde passam produtos que sustentam boa parte da agricultura e da indústria de diversos países, está reduzido a menos da metade de seu volume. E, em alguns pontos, chega a ter a navegação interrompida.
A seca que atinge o Danúbio – e todo os grandes rios da Europa – prejudica fazendeiros, trabalhadores portuários, a indústria da navegação, donos de restaurantes e inúmeras famílias que, de uma forma ou de outra, vivem de negócios ligados ao transporte fluvial ou atividades turísticas. Há séculos, gerações inteiras têm suas vidas ligadas aos rios como o Danúbio, o Reno: o Rhône, o Loire e o Garonne, na França, o Pó, na Itália, e muitos outros.
Cerca de dois terços da Europa sofre com a seca deste ano, a pior em 500 anos e os cientistas não têm dúvidas em atribuir o fenômeno ao aquecimento global. A prolongada estiagem afeta os setores de alimentação, fornecimento de água potável, energia elétrica e causa danos ao meio ambiente. Os cientistas alertam que, se os verões como esse de 2022 se tornarem uma tendência nos próximos anos, alguns dos rios mais importantes do continente poderão não se recuperar.
O último relatório divulgado pelo Observatório Europeu da Seca (EDO), em agosto, mostrou índices preocupantes dos rios do continente. Até o dia 10 do mês avaliado, 47% da União Europeia estavam sob severa seca, e 17% em estado de alerta. De acordo com Karsten Rinke, do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental da Alemanha (UFZ), esse é o “novo normal”.
Segundo o porta-voz da Comissão Europeia, Johannes Bahrke, a previsão é que o cenário atual continue até novembro. Os países mais afetados são: Alemanha, França, Portugal, Espanha, Itália, Eslováquia, Hungria, Romênia, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
Outro rio muito afetado, e de grande importância já que atravessa boa parte do continente europeu, é o Reno. A hidrovia é responsável por 4% do transporte na Alemanha. Com os níveis baixos, o transporte de cargas de produtos derivados do petróleo, diesel ou combustível estão sendo feitos abaixo da carga máxima.
Com as falhas no sistema hídrico o ecossistema também é prejudicado, e de forma intensa. A diluição dos sais e o fluxo mais lento da água colaboram para o aumento de salinidade, o que pode ser letal para espécies de vida ribeirinha. Além disso, as altas temperaturas causam um aumento da proliferação de algas, que podem ser tóxicas para o sistema fluvial.
Muitos rios, inclusive, secaram totalmente. “Quando isso acontece, eles perdem toda a sua biodiversidade, para sempre. E não voltarão apenas na próxima vez que chover”, diz Rinke.