Londres garante facilidades para o trânsito de mercadorias via Irlanda do Norte
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reunidos hoje, em Londres, chegaram a um acordo visando a primeira mudança no Brexit, desde que o tratado que levou à saída do Reino Unido da União Europeia entrou em vigor, em 2020.
A mudança tem um alcance bastante limitado, levando-se em conta os problemas que o Brexit vem causando para a população britânica, que hoje é, majoritariamente, contra o tratado. As pesquisas mais recentes indicam que 54% dos britânicos hoje votariam contra o Brexit. Ficou acertado que serão feitas mudanças no chamado Protocolo da Irlanda do Norte.
A Irlanda do Norte é a única parte do Reino Unido que faz fronteira com um país integrante da União Europeia, a República da Irlanda. Quando o Brexit entrou em vigor, os dois lados concordaram em manter a fronteira entre as duas Irlandas livres de controle e de taxas aduaneiras.
Mas, na época, ficou estabelecido que os produtos destinados à Irlanda do Norte, procedentes das demais regiões do Reino Unido, ou seja, Inglaterra, Escócia e País de Gales, continuaram submetidos a controles. Isto desagradou os políticos da Irlanda do Norte, que se queixam de uma desigualdade de tratamento. Entre outros pontos, o protocolo exigiu que a Irlanda do Norte continuasse obedecendo as rígidas normas da União Europeia relacionadas com alimentos, o que leva a demoradas inspeções nas aduanas.
Para resolver o problema, o governo britânico obteve autorização da União Europeia para os seguintes pontos: a adoção de diferentes regras aduaneiras para produtos procedentes do Reino Unido e destinados apenas à Irlanda do Norte e produtos que cruzem a fronteira com destino à República da Irlanda, ou seja, aos países do bloco europeu. Assim, na fronteira, haverá duas faixas para os caminhões: –
Embora decidido a atender à reivindicação da Irlanda do Norte, Rishi Sunak declara que continua um firme defensor do Brexit. “Sempre defendi o Brexit. Votei pelo Brexit”, ele disse numa entrevista neste final de semana.
Apesar dessa afirmação, Sunak está sob duras críticas de seus parceiros no Partido Conservador, principalmente do ex-primeiro-ministro Boris Johnson, o grande responsável pelo Brexit, que acham cedo para começar a alterar o tratado.
Tratado trouxe inúmeros problemas
Dados da British Chamber of Commerce indicam que 77% das empresas se queixam de que o Brexit não ajudou a aumentar as vendas ou no crescimento dos negócios.
– 56% das empresas ainda enfrentam dificuldades para se adaptar às novas regras para o comércio de bens, incluindo importação e exportação, diante da enorme burocracia que passou a vigorar.
– 45% das empresas do setor de serviços também se queixam das novas regras e 44% apontam dificuldades relacionadas com vistos e as viagens de seus funcionários para o continente. “Sair da União Europeia nos tornou menos competitivos perante os consumidores europeus. Isso nos custou um enorme volume de dinheiro, que poderia ter sido investido no Reino Unido, não fosse pelo Brexit”, disse um associado da BCC.
Para os consumidores, houve aumentos nos preços dos produtos vindos do bloco europeu, por conta das novas taxas que entraram em vigor para a importação Isso também se refletiu na inflação, que chegou a 10,1% no final do ano passado, um recorde em 40 anos.
O PIB britânico caiu 5,5% em relação ao período anterior ao Brexit e a taxa de investimentos no país despencou em 11%.
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