Raspagem corporal para relaxar membros, pedras para delinear o queixo, massagem facial
The New York Times
Se você navegar pelo TikTok ou pelo Instagram, provavelmente vai encontrar alguém raspando, escovando ou massageando a pele em busca de saúde e visual bonito. O assunto drenagem linfática está em alta. Há muitos depoimentos sobre raspagem corporal para relaxar membros rígidos, pedras para delinear o queixo, massagem facial para reduzir o inchaço do rosto, escovação a seco para “desintoxicação” da pele. Essas postagens já acumularam milhões de visualizações nas redes sociais de celebridades como Gwyneth Paltrow e Elle Macpherson confirmando a sua eficácia.
Todas essas técnicas da moda se baseiam no mesmo conceito: promover a circulação de um líquido incolor chamado linfa, que transporta glóbulos brancos para os órgãos do corpo e que leva resíduos de células e tecidos para os linfonodos, onde são então filtrados e devolvidos à corrente sanguínea. O movimento da escovação seca – no qual se deve usar bucha ou escova de cerdas duras em pequenos círculos por todo o corpo – e as pulsações de um massageador facial devem desfazer suavemente os bloqueios na circulação linfática. O gua sha, em que se esfrega uma pedra ou um metal pelo contorno do rosto; a raspagem corporal, que é uma versão de corpo inteiro do gua sha que usa ferramentas semelhantes; e o rolo de jade, ferramenta com uma pedra arredondada também usada no rosto, são técnicas destinadas a empurrar fisicamente o líquido linfático em direção aos linfonodos.
Agora, será que tudo isso realmente funciona? Essas técnicas, de fato, estimulam o fluxo do líquido linfático? E quais são os resultados reais deste tipo de tratamento?
As referências à linfa na medicina tradicional chinesa remontam a dois mil anos, afirma Yumi Ridsdale, que pratica esse tipo de medicina em Ontário, no Canadá. “Os chineses, é claro, não usavam a palavra ‘linfático’ – ela não existia”, mas sua medicina enfatizou a importância da circulação linfática, e os praticantes contemporâneos frequentemente incorporam o gua sha, a raspagem corporal e a escovação seca em seus tratamentos.
Os estudos acadêmicos sobre a eficácia dessas técnicas são raros e limitados, pois contam com pequenas amostragens. A pesquisa existente sugere que uma técnica relacionada, chamada massagem de drenagem linfática manual, na qual os terapeutas esfregam e tocam certas partes do corpo com as mãos para incentivar o movimento linfático e a drenagem, é eficaz para reduzir o inchaço em pacientes com câncer. Outras pesquisas, embora também limitadas, sugerem que o gua sha e a massagem facial podem aumentar a circulação sanguínea e o fornecimento de oxigênio na pele, o que é necessário para a renovação celular.
Massagear o sistema linfático pode ajudar a estimular o fluxo e evitar uma sensação de “congestionamento corporal”, explicou a Dra. Melissa Ventimiglia, professora de medicina de família da Faculdade de Medicina Osteopática do Instituto de Tecnologia de Nova York. Isso é recomendado ao acordar ou depois de passar longos períodos sentado. Você também pode notar mudanças imediatas na pele e no rosto – uma redução no inchaço ou um visual mais esculpido – com o gua sha ou técnicas semelhantes, ensinou Ridsdale, embora esses efeitos durem, no máximo, algumas horas.
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Em muitos aspectos, o sistema linfático é o irmão desprezado do sistema circulatório, menos conhecido e pesquisado, segundo Shan Liao, professora de imunologia da Universidade de Calgary, no Canadá. Mas ele é essencial para a função imunológica e a saúde celular. A linfa não é bombeada como o sangue – “não temos um coração linfático”, disse ela, embora os vasos linfáticos pulsem um pouco. Eles também podem aproveitar os vasos sanguíneos, usando a força destes para ajudar no movimento. Mas o fluxo linfático é ativado principalmente quando respiramos, nos alongamos e andamos.
Quando o fluido linfático não se move corretamente pelos vasos, pode se acumular nos tecidos do corpo, resultando em inchaço ou linfedema, de acordo com Liao. Isso pode levar ao endurecimento ou ao peso nos membros, à restrição de movimento e a alterações na espessura ou na coloração da pele. O linfedema é um problema principalmente em pacientes com câncer e pessoas que acabaram de passar por uma cirurgia, uma vez que os vasos linfáticos podem ser bloqueados por tumores ou danificados por radioterapia ou incisões cirúrgicas.