POLÍTICA

Quanto tempo pode durar o governo de Giorgia Meloni?

Após as eleições vem o choque com a realidade: crise econômica e dois aliados nem um pouco confiáveis

Por: Carlos Taquari
Da redação | 27 de setembro de 2022 - 21:55

Líder do partido mais votado nas eleições legislativas e futura primeira-ministra, Giorgia Meloni terá de enfrentar agora o mundo real. Passadas as eleições, os problemas não são poucos e ela não será a primeira a se deparar com essa situação. A Itália teve mais de 60 governos, desde o final da Segunda Guerra.

Meloni pode começar se perguntando por quanto tempo vai durar o apoio de seus aliados mais próximos, Matteo Salvini, da Liga, e Silvio Berlusconi, do Força Itália. Salvini, que já foi vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, entre 2018 e 2019, não engoliu a queda de seu partido, que teve apenas 8,8% dos votos, 9 pontos a menos, em relação a 2018: “O resultado não me satisfaz, mas não é preciso ser um cientista político para ver que a Liga é o segundo partido no governo”, afirmou, deixando claro que vai reivindicar sua fatia no bolo.

Giorgia Meloni: a difícil tarefa de lidar com aliados incômodos. Crédito: Arquivo Pessoal.

E quanto a Berlusconi, conhecido por seu ego monumental, vai se contentar com o posto de coadjuvante, depois de ter sido duas vezes primeiro-ministro?

O primeiro teste para a aliança, no plano internacional, estará relacionado com a guerra na Ucrânia. Salvini e Berlusconi são admiradores de Vladimir Putin, enquanto Meloni criticou a invasão e apoiou as sanções econômicas contra a Rússia.

Como a Itália vai se posicionar agora que Putin deve anunciar a anexação dos territórios ucranianos ocupados, onde a Rússia promoveu um referendo cercado de suspeitas?

Quando ocupava o cargo de ministro do Interior, Salvini tentou bloquear a chegada de imigrantes vindos do norte da África e agora, certamente, vai insistir no assunto. Mas a União Europeia não aceita a adoção de métodos de repressão à imigração que coloquem em risco a vida das pessoas. Será que Meloni ficará com Bruxelas ou com Salvini?

Há outra divergência que deve se aflorar nas próximas semanas. Salvini é um duro crítico da União Europeia e já se pronunciou várias vezes pela saída da Itália da zona do euro ou até do bloco europeu.

Aqui, a pergunta que se faz é a seguinte: como a Itália poderia deixar o bloco se a economia do país sofre com uma crise que se prolonga por décadas. Há 20 anos, o PIB país não cresce. O desemprego atinge cerca de um quarto dos jovens italianos. Nesse momento, o país aguarda a liberação de um pacote de ajuda da Comissão Europeia no valor de 200 bilhões de euros, fundamental para um alívio temporário da crise econômica e social. Sem esquecer que a dívida do país chega a 2,7 trilhões de euros, ou seja, mais de 150% do PIB.

Será que ela, simplesmente, vai dizer não às exigências feitas pela União Europeia para liberar o dinheiro? Entre outros pontos, os líderes do bloco cobram uma série de compromissos de ordem política e social, incluindo o respeito às normas relacionadas com direitos humanos.

Abrir mão da ajuda do bloco seria impensável e tentar mudar os termos do acordo pode se tornar uma batalha perdida.

Em resumo, trata-se de mais um governo italiano que terá de se equilibrar no fio da navalha.

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