SAÚDE

Depressão e ansiedade: a fé pode ajudar no tratamento da saúde mental

Especialistas acreditam que a espiritualidade ajuda na superação de problemas psicológicos

Da redação | 23 de setembro de 2022 - 21:56

Do Washington Post 

“A saúde mental dos americanos está no ponto mais baixo da história. As pessoas estão se sentindo cada vez mais isoladas. Estão menos conectadas entre elas e também ao espiritual. Isto é um grande problema”. Com esse terrível diagnóstico, David H. Rosmarin, professor associado da Harvard Medical School, definiu a situação atual da população norte-americanano quesito “equilíbrio mental”.

Diante desse quadro, cresce o número de psicoterapeutas americanos que acreditam que fé, religião e espiritualidade têm ferramentas que podem ajudar na crise de saúde mental. Nos últimos anos, houve um aumento nos cursos, artigos e trabalhos de pesquisas publicados em revistas científicas para integrar a fé na psicoterapia. Para Rosmarin, ainda é muito difícil convencer seus colegas de profissão que são menos religiosos a fazer essa associação, que ele considera necessária.

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A fé no apoio à psicoterapia: Freud não via sentido na ligação entre uma coisa e outra (Foto: Pexels)

A fé no apoio à psicoterapia: Freud não via sentido na ligação entre uma coisa e outra (Foto: Pexels)

Distância entre psicologia e fé

A resistência entre a ligação de psicologia e espiritualidade é bem antiga. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, caracterizou a religião como uma “ilusão em massa”. Tais atitudes diminuíram recentemente à medida que as evidências científicas dos benefícios à saúde de práticas como a oração e a meditação aumentam. No entanto, a desconfiança persiste.

“Há uma lacuna de religiosidade entre os psicólogos e a população em geral”, disse David Lukoff, psicólogo clínico. Embora os profissionais de saúde mental muitas vezes se sintam desconfortáveis ​​com o assunto, no qual têm pouca experiência pessoal, mais da metade dos pacientes está interessada em terapia espiritualmente integrada.

Apenas um quarto dos psicólogos e psiquiatras foram treinados em como atender às demandas espirituais dos clientes, de acordo com Lukoff, que ajudou a desenvolver um programa para promover “competência espiritual” para terapeutas. Esse treinamento inclui, segundo Lukoff, aulas sobre “atenção plena, autocompaixão, perdão e experiência mística”. Ele diz que as técnicas espirituais podem ser especialmente úteis quando os indivíduos estão lidando com questões existenciais profundas.

“Quando as pessoas perguntam: ‘Deus, por que você está fazendo isso comigo? Por que há sofrimento no mundo? Qual é o significado e o propósito da vida?’, isso não é um problema psicológico. É uma luta espiritual”, avalia Eric J. Hall, ministro presbiteriano e presidente da HealthCare Chaplaincy Network, um serviço religioso sem fins lucrativos que trabalha em hospitais e outros estabelecimentos de saúde.

Nossas lutas espirituais podem levar a um tremendo crescimento pessoal, observou Hall. “Mas quando a luta se aprofunda sem a capacidade de processá-la, a saúde das pessoas geralmente se deteriora. Pesquisas mostram que a angústia espiritual aumenta as taxas de problemas cardíacos e outras doenças, bem como ansiedade, depressão e pensamentos suicidas, disse ele.

“Problema religioso ou espiritual”

As principais organizações de saúde já perceberam isso. Uma nova categoria de diagnóstico, “Problema Religioso ou Espiritual”, foi adicionada ao DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana) em 1994. Em 2016, a Associação Médica Americana aconselhou os médicos a fornecerem um plano de cuidados espirituais como parte do seu tratamento para os pacientes.

Cuidado espiritual não significa resolver os problemas de alguém para eles, explicou Russell Siler Jones, diretor da Residência em Psicoterapia da CareNet/Wake Forest Baptist Health. “Você não precisa ter as respostas, apenas estar disposto a acompanhar as pessoas na luta”, conclui.

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