ECONOMIA

Plantações são devastadas por furacão nos EUA e laranja sobe no Brasil

Preço no produtor já ficou 10% mais alto por quebra na produção da Flórida e maior demanda por laranja brasileira

Da redação | 6 de outubro de 2022 - 13:14

Marvin G Perez,
Da Bloomberg

Com Mário Augusto e Ismael Pfeifer, de São Paulo

Alguns dias após a passagem do furacão Ian pela Flórida, as águas baixaram, mas o fedor de frutos e plantas derrubados permanece. Emma Reynolds Ezell caminha para avaliar os danos que uma noite de ventos de 160 quilômetros por hora causaram em seus laranjais sob o cheiro forte quase insuportável no lugar. Não é nada como o habitual aroma cítrico doce que flutua na brisa. Em vez disso, é “pantanoso”: o odor pútrido de lama escorrendo que encheu as valas locais depois que as águas do Lago Placid nas proximidades transbordaram em chuvas torrenciais.

Essa realidade persiste há mais de uma semana desde que Ian atacou. Um dos piores furacões que já atingiram os Estados Unidos, a tempestade deixou milhões de casas na Flórida sem energia, provocou uma tempestade devastadora e matou mais de 100 pessoas no país. E só agora os agricultores finalmente podem fazer algumas de suas primeiras avaliações do que a destruição significará para a icônica indústria cítrica de US$ 6,7 bilhões do estado.

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Perda pode chegar a 80%
Produtores estimam uma perda de pelo menos metade de sua colheita devido aos danos causados ​​pelo vento. Em algumas das áreas mais atingidas, pode ser ainda pior, com relatos de até 80% das frutas sendo arrancadas das árvores em algumas fazendas.

Isso é devastador para uma indústria que já está lidando com uma doença fúngica incapacitante nas plantações, o greening, contra a qual não há defensivo. E é uma má notícia para a inflação de alimentos, já que os preços do suco de laranja, o mais consumido no mundo, sobe no mercado internacional.

Janet Mixon inspeciona seu pomar. Ela estima que o furacão Ian causou uma perda de 30% na colheita (Foto: Tristan Wheelock /Bloomberg)

Nos condados de Hardee e Highlands, na Flórida, no coração do cinturão cítrico, os sinais de desastre estão por toda parte. Galhos de árvores, poderosos o suficiente para suportar o peso das frutas adultas que pendem de seus galhos, se partiram e ficaram espalhados no chão.

Em alguns lugares, o vento foi tão forte que as árvores foram arrancadas, expondo suas raízes nuas. As valas estão transbordando de água e, nas proximidades do condado de DeSoto, algumas áreas ainda estão tão inundadas ou devastadas pela lama que as estradas estão intransitáveis.

Mas o que é mais impressionante são as dezenas de milhares de pedaços de frutas espalhadas pelo chão. A estação produtiva ainda estava em andamento, o que significa que grande parte da fruta ainda não havia amadurecido totalmente e alcançado sua cor laranja característica.

Cresce demanda pela fruta brasileira

A Flórida é uma das maiores regiões produtoras de laranja dos Estados Unidos. O furacão Ian percorreu quatro dos cinco maiores condados produtores de cítricos da Flórida: DeSoto, Highlands, Hardee e Polk. A indústria é um dos principais impulsionadores econômicos da região e sustenta quase 33 mil empregos de tempo integral e parcial no estado, inclusive em fazendas e em fábricas de empacotamento e processamento.

O impacto do furacão Ian na safra de laranja da Flórida deve ter reflexos nas exportações brasileiras. Analistas americanos acreditam que após a passagem do Ian a safra 2022 pode ser a menor dos últimos 55 anos, uma vez que uma grande área produtora foi atingida. Com as lavouras da Flórida devastadas, os preços sofreram uma alta no mercado internacional.

Aqui no Brasil, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), os valores da laranja in natura no produtor registraram aumento próximo de 10% na última semana. Essa alta se deve à maior demanda pelo produto brasileiro devido à quebra da produção americana. Com isso, os preços da fruta nos supermercados devem aumentar também.

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