SOCIEDADE
Foto: Jim Wilson/The New York Times

Ouro brota nos rios e lagos da Califórnia, depois das fortes chuvas

Uma nova corrida do ouro começa a atrair pessoas em busca do sonho de riqueza, repetindo a história de mais de um século atrás

Da redação | 30 de abril de 2023 - 20:55
Foto: Jim Wilson/The New York Times

The New York Times 

Desta vez, o trabalho mais difícil foi feito pela natureza. As chuvas torrenciais de inverno que caíram sobre boa parte do território da Califórnia varreram as montanhas, rios e córregos. Ao mesmo tempo, à medida que o clima mais quente derrete os bancos de neve nas encostas montanhosas, águas agitadas carregam depósitos de ouro que são deixados pelo caminho. Por último, os incêndios florestais dos últimos anos deixaram o solo mais solto, ajudando a empurrar para baixo o que alguns estão chamando de “inundação de ouro”.

Recentemente, Albert Fausel, morador em Placerville, ao Norte da Califórnia, em uma tarde ensolarada, vestiu a roupa e a máscara de mergulho e entrou de cara no riacho raso perto de casa. Garimpeiro amador, Fausel varreu com as luvas a areia e o cascalho no fundo do riacho e, ainda submerso, soltou um grito audível através do tubo de snorkel: “Urruuuuuuuuu!”

Ele emergiu com o que os garimpeiros chamam de picker – não exatamente uma pepita, mas grande o suficiente para segurar com dois dedos – e entregou delicadamente o objeto brilhante a um colega garimpeiro, amigo de barba branca e comprida conhecido como Tio Fuzzy. Em apenas 20 minutos de sondagem no leito do riacho, Fausel tinha encontrado cerca de cem dólares em ouro.

Ouro brota nos rios

Garimpeiro tenta a sorte no riacho de Shingle Springs, Califórnia. (Jim Wilson/The New York Times)

A Corrida do Ouro

Já se passaram quase 175 anos desde que a corrida do ouro atraiu inúmeros navios e carroças abarrotados de gente, mas o sopé da Sierra Nevada ainda abriga um grupo peculiar de garimpeiros, barbudos e de camisa de flanela, que se debruçam sobre mapas antigos em busca de tabernas agora desaparecidas ou andam pelo interior à procura de pepitas e outros artefatos.

Placerville fica a 15 minutos de carro do vale onde James Marshall, um carpinteiro que estava construindo uma serraria, em Janeiro de 1848, ao longo do Rio American, quando avistou algo reluzente na água. “Algum tipo de joia, parecida com ouro”, escreveu um de seus trabalhadores no diário, na grafia peculiar da época.

Os grandes pedaços do metal, fáceis de encontrar, que vaguearam nos rios durante milênios, desapareceram depois dos primeiros anos da corrida do ouro. E Marshall morreu sem um centavo. Mas os mineiros recorreram à pulverização das encostas com poderosos jatos de água e à triagem do que fluía morro abaixo, deixando pilhas gigantes de resíduos de mineração visíveis ainda hoje.

Esse tipo de extração agora está fortemente restrito na Califórnia, mas os garimpeiros dizem que as sucessivas e violentas tempestades de inverno produziram um efeito semelhante. É como se a natureza tivesse apontado uma lavadora de alta pressão para as colinas e oferecido alguns dos minerais preciosos ainda embutidos na terra e nas rochas.

“Sempre que você estiver perto de um rio e ouvir as pedras caindo, saiba que o ouro também está se movendo”, ensinou Jim Eakin, comerciante local de lenha. Ele contou que, há quatro anos, encontrou uma pepita enorme e comprou uma caminhonete Ford F-150 nova com o dinheiro, cash. Como vários de seus amigos em busca de ouro, Eakin, que muitas vezes usa uma pepita no pescoço, foi cauteloso quando indagado sobre o local exato onde desenterrou a pepita que lhe permitiu comprar a caminhonete. “Em algum lugar ao norte de Los Angeles, ao sul de Seattle e a oeste de Denver”, brincou. Eakin se inclui no grupo de garimpeiros capazes de “ler o chão” e lucrar com o clima do inverno.

“Vai ser um ano magnífico. Estamos vendo novas erosões por toda parte”, garantiu Tony Watley, presidente do clube Gold Country Treasure Seekers (Caçadores de Tesouros da Terra do Ouro).

Os garimpeiros de hoje variam de amadores interessados em passar uma tarde no rio a caçadores de tesouros obstinados e bem equipados. Os ourives da área compram o ouro e depois o derretem ou o convertem em joias.

James Holifield, aluno do ensino médio que vive em um subúrbio de Sacramento, chegou às margens do Rio American no último dia das férias de primavera, inspirado por alguns vídeos do YouTube. “O ouro tem alguma coisa especial”, disse, vestindo apropriadamente uma camisa de flanela e botas de borracha que lhe cobriam as canelas.

Depois de duas horas, encontrou quatro lascas de ouro. A mãe de James, sentada em uma cadeira portátil, afirmou que estava satisfeita com o fato de o filho ter escolhido um hobby de “baixo investimento”. E acrescentou: “Vê-lo garimpando em busca de ouro é melhor do que vê-lo colado ao telefone.”

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