Drama de ação da Amazon Studios tem ritmo acelerado e se baseia em estratégia planejada para se expandir globalmente
The New York Times
Uma rede global de espionagem, chamada “Citadel”, tem a missão de manipular a política internacional, frequentemente por meios não pacíficos. No centro da história, estão dois agentes e ex-amantes ardentes, Nadia Sinh (Priyanka Chopra Jonas) e Mason Kane (Richard Madden), que têm de lutar para salvar a organização depois que um nefasto grupo de espiões inimigos, conhecido como Manticore, quase apaga a Citadel do mapa.
Com esse drama de ação encenado em ritmo acelerado e com uma certa dose de violência, a Amazon Studios espera conquistar milhões de telespectadores, em todo o mundo.
Dirigida pelos irmãos Anthony e Joe Russo e com seis episódios na primeira temporada, a série utiliza uma estratégia pensada para atrair as pessoas em diferentes partes do globo: começa com um programa feito nos Estados Unidos e depois se expande para várias outras séries, ambientadas e produzidas em outros países e filmadas em diferentes idiomas, todas conectadas no mesmo universo narrativo do Prime Video.
Esta foi a proposta feita pela chefe da Amazon Studios, Jennifer Salke, que deixou intrigados os irmãos Russo. Como pilares do império Marvel, tendo dirigido dois filmes da série “Os Vingadores” e outros dois de “Capitão América”, sabiam tudo sobre alcance internacional – afinal, a franquia lucra muito no exterior. E logo encontraram o veículo certo: um thriller de espionagem, em ritmo acelerado, passado em diversos países ao redor do mundo, como é habitual nesse tipo de história.
Mas a série americana é apenas o ponto de partida: a versão italiana, estrelada por Matilda De Angelis (“The Undoing”), já foi concluída, e a indiana está em andamento, protagonizada pela estrela de Bollywood, Varun Dhawan. Para os irmãos Russo, produtores executivos das três séries, a franquia era o próximo passo lógico na visão deles de construção e alcance mundiais. “Tivemos a sorte de poder contar histórias que viajam pelo mundo e vimos o efeito delas sobre o público. Mas se tratava de narrativas centradas em Hollywood que eram exportadas. A ideia de uma história que não só viajasse, mas que fosse criada ao redor do mundo, parecia uma evolução muito empolgante”, explicou Anthony Russo.
Desafios da produção
Alguns dos desafios de produção já são evidentes. “É como montar um cavalo xucro. Novas ideias estão sempre em desenvolvimento, porque a Itália e a Índia estão em diferentes cronogramas de produção. À medida que as outras duas produções vêm com novas ideias, é importante ajustar e garantir que nossos tópicos de enredo estejam todos alimentando corretamente as histórias futuras”, afirmou Joe Russo.
As ambições internacionais da franquia ficam logo aparentes nos primeiros episódios da produção norte-americana. As locações de filmagem no exterior da primeira temporada incluem Londres, Marrocos e Valência, na Espanha. Nos primeiros dez minutos da série, Chopra Jonas e Madden brincam e brigam em mandarim, italiano, espanhol e alemão, um jeito multilíngue de indicar imediatamente que esses personagens têm um passado.
O elenco também foi uma parte decisiva da equação internacional. Chopra Jonas é uma das atrizes mais famosas da Índia e é conhecida também nos Estados Unidos (inclusive pelo drama da ABC “Quantico”). Madden, que interpretou Robb Stark em “Game of Thrones”, é escocês. A atriz inglesa Lesley Manville (“The Crown”, “Trama Fantasma”) interpreta a chefe implacável do Manticore.
O foco global foi uma grande parte do apelo para Chopra Jonas, que disse em uma videoentrevista: “Como alguém que trabalhou na indústria cinematográfica indiana, eu sempre quis que nossos filmes em hindi transcendessem fronteiras e chegassem a outras diásporas. Você sempre quer que seus filmes viajem. ‘Citadel” está dando a oportunidade a cineastas do mundo inteiro de brincar no mesmo tanque de areia, de ter as mesmas chances de contar suas histórias.”
“A Identidde Bourne”
Como “A Identidade Bourne” (2002), o primeiro da longa série de filmes baseada nos romances de Robert Ludlum, “Citadel” gira em torno de um caso de amnésia. Quando, no episódio piloto, Mason e Nadia quase morrem em um acidente de trem incendiário, o cáustico chefe deles, Bernard (Stanley Tucci), “reprograma-os”, apagando a memória dos dois. Mason passa os próximos oito anos vivendo como outra pessoa, Kyle, com a esposa (interpretada pela atriz australiana Ashleigh Cummings) e a filha (Caoilinn Springall), e sem nenhuma lembrança da vida de superespião.
Kyle é um cara simpático. Mason, nem tanto. Quando as circunstâncias conspiram para tornar Mason novamente necessário à Citadel, a transição inversa vira um processo complicado. “Eles compartilham uma alma. Mason é inerentemente egoísta e ‘danificado’. Kyle é o oposto disso. Ele está cercado de amor. Com o desenrolar da série, vemos mais de Mason e como ele, na verdade, é carente de amor e intimidade com alguém”, conta Madden.
Aqui, também, as qualidades inerentes ao gênero espionagem criam oportunidades para uma exploração mais profunda. Os espiões, afinal, não têm identidade fixa: são muitas coisas diferentes para várias pessoas diferentes. “Citadel” adiciona uma “ruga” a essas linhas já desfocadas, criando personagens cujo eu dividido vai além de apelidos convenientes e múltiplos passaportes.