Regime puniu organização pelo socorro dado a manifestantes feridos em confronto com a polícia
O regime de Daniel Ortega ordenou o fechamento da Cruz Vermelha na Nicarágua, onde a organização internacional atuava desde 1931. Além de fechar as unidades, o decreto governamental também determina o confisco de todos os bens da Cruz Vermelha no país.
A decisão é uma represália pelo socorro prestado pela organização aos manifestantes feridos em confronto com a polícia, durante a onda de protestos contra o governo, em 2018.
O governo considerou que a Cruz Vermelha violou as leis do país ao prestar ajuda aos manifestantes que protestavam contra o endurecimento do regime. Durante os protestos, a Cruz Vermelha foi às ruas pata socorrer milhares de feridos nos choques com as forças de segurança e paramilitares.
Com um longo histórico de atuação na Nicarágua, a Cruz Vermelha iniciou seus trabalhos no país durante o terremoto de 1931, que devastou amplas regiões, deixando milhares de mortos e feridos. O tremor de magnitude 6.1 praticamente destruiu a cidade de Manágua, deixando cerca de 2 milhões de mortos e dezenas de milhares de desabrigados. Na época, a Cruz Vermelha foi o principal órgão de ajuda às vítimas.
A Cruz Vermelha é mais uma das organizações sem fins lucrativos fechadas pelo regime nicaraguense. Desde 2018, 3.290 ONGs já foram fechadas na Nicarágua. Todas foram acusadas pelo Parlamento, controlado pelos sandinistas, de não cumprir as ordens de prestação de contas para organizações não governamentais.
O fechamento da Cruz Vermelha na Nicarágua interrompe mais de 200 iniciativas humanitárias de assistência à população, incluindo a insegurança alimentar, apoio às vítimas de violência e ajuda às comunidades indígenas.
Além da questão do socorro aos feridos nos confrontos com a polícia, setores da oposição acreditam que o governo tinha outros motivos para punir a Cruz Vermelha. Acontece que a organização Teleton atuar como mediadora após a prisão de opositores políticos, no ano passado. O governo não aceitou negociar e acabou expulsando do país mais de 200 pessoas, que também foram punidas com perda da nacionalidade.