Muito além do uso na culinária, o cultivo de algas marinhas se transforma em setor cobiçado no Ocidente
Um startup de Londres está fabricando um substituto do plástico com algas marinhas. Na Austrália e no Havaí, outros estão correndo para cultivar algas que, quando transformadas em alimento para o gado, podem cortar o metano exalado pelos bovinos. Os pesquisadores também estudam quanto dióxido de carbono pode ser sequestrado por fazendas de algas marinhas, à medida que os investidores apostam nelas como uma nova fonte de créditos de carbono para que os poluidores compensem suas emissões de gases de efeito estufa. E, na Coreia do Sul, um dos países produtores de algas marinhas mais estabelecidos do mundo, os agricultores estão lutando para acompanhar a demanda crescente de exportação.
Em muitos lugares do mundo as algas marinhas estão sendo utilizadas para evitar a emissão de dióxido de carbono. A nova commodity global está atraindo grandes investidores para a agricultura marinha, que contribui para o combate das mudanças climáticas.
A indústria asiática era relativamente pequena e agora é cobiçada pelo Ocidente. Muito além da Coreia do Sul, novas fazendas surgiram no Maine, nas Ilhas Faroé, na Austrália e até no Mar do Norte. Globalmente, a produção de algas marinhas cresceu quase 75% na última década. O foco está indo muito além do uso tradicional na culinária.
Especialistas temem que o cultivo no oceano possa replicar alguns dos mesmos danos da agricultura em terra. Pouco se sabe sobre como as fazendas de algas, particularmente as mais distantes, podem afetar os ecossistemas marinhos.
“Os defensores das algas acreditam ser a cura para tudo, uma panaceia mágica para os problemas climáticos. Os antagonistas acham essa visão muito exagerada”, disse David Koweek, cientista-chefe da Ocean Visions, uma ONG que estuda intervenções oceânicas para a crise climática.
A empresa NotPla, abreviação de “not plastic”, localizada no leste de Londres, projetou um sachê comestível de água, feito de algas marinhas e outros extratos de plantas: para tomar a água, basta colocar o sachê na boca. Outro que pode conter ketchup e um terceiro para cosméticos. Começaram também a fazer um revestimento à base de algas marinhas para caixas de papelão para viagem. O Just Eat, aplicativo de entrega de comida na Grã-Bretanha, começou a usá-lo em alguns de seus pedidos e tem planos para ampliar essa utilização.
A corrida do cultivo
A nova fronteira para a produção de algas marinhas vai além da Ásia. Steve Meller, dono da empresa CH4, cultiva-as em tanques de vidro gigantes em terra – especificamente, uma alga vermelha nativa das águas da costa australiana chamada asparagopsis, procurada por empresas de carne bovina e laticínios como uma maneira de cumprir as metas climáticas.
Uma pitada de asparagopsia na alimentação do gado pode cortar o metano de seus arrotos e gases em até 98%, de acordo com estudos independentes. O arroto do gado é uma fonte importante de metano, gás potente de efeito estufa. “Suponho que esteja em andamento a corrida para obter o primeiro suprimento comercial do mundo. A demanda é de grande escala”, declarou Meller.
Pelo menos duas outras startups australianas, a Sea Forest e a Rumin8, estão na corrida por algas marinhas para o gado. Assim como a Symbrosia e a Blue Ocean Barns, ambas no Havaí. A Fonterra, produtora de laticínios da Nova Zelândia, iniciou testes comerciais do suplemento de algas, e a Ben & Jerry’s está planejando testes próprios em breve. A gigante global de laticínios Danone investiu em uma startup de asparagopsis.