CIÊNCIA

Novas descobertas sobre o impacto de asteroide contra a Terra

Pesquisadores estudam os motivos da sobrevivência de espécies de mamíferos após a grande extinção

Por: Júlia Castello
Da redação | 15 de novembro de 2022 - 13:17

Sessenta e seis milhões de anos atrás, um asteroide de 10 km de diâmetro colidiu com a Terra. Estima-se que sua força de destruição equivale a mais de um bilhão de bombas nucleares. Além da extinção dos maiores seres do planeta, os dinossauros, o impacto do asteroide foi responsável por extinguir três quartos das espécies vivas da Terra.

Entretanto, em meio ao “quase fim do mundo”, algumas espécies de mamíferos conseguiram sobreviver. Para tentar desvendar os motivos para a permanência e reprodução em um ambiente hostil, o autor de “The Rise and Reign of the Mammals”, Steve Brusatte e colegas, da Universidade de Edimburgo, estudam o tema.

Ossada de dinossauro foto pexels

Ossada de dinossauro, dizimados pela queda de um asteroide (Foto: Pexels)

Naquele momento, em que grande parte da diversidade de mamíferos foi extinta, nove em cada 10 espécies de mamíferos desapareceram. Mas, para Brusatte, trouxe oportunidades sem precedentes para os sobreviventes. Foi como acordar em um dia e ter todos seus predadores mortos. Foi esta oportunidade, segundo o pesquisador, que gerou a profusão da diversidade dos mamíferos no planeta, desde das baleias azuis, as chitas e, claro, muito mais tarde, os seres humanos.

Teoria dos quatro motivos

Brusatte e os pesquisadores da Universidade de Edimburgo, após longos  estudos, conseguiram definir quatro motivos pelos quais as espécies de mamíferos daquela época conseguiram sobreviver. O primeiro deles é o tamanho.

Naquele momento, as pequenas dimensões dos mamíferos, a maioria equivalente ao tamanho de um rato hoje, garantiu a sobrevivência da espécie. Quanto maiores os animais, mais longas são as gestações.

Enquanto um elefante africano gesta um filhote ao longo de 22 meses, um camundongo tem uma gravidez de 20 dias. Em um cenário caótico como o do planeta pós-asteroide, a rapidez da reprodução acabou sendo fundamental para que as espécies não fossem extintas.

Esconderijo e alimentação

O segundo motivo tem a ver com a chance de se esconder embaixo do solo. Com a morte das árvores, todos os animais, incluindo mamíferos que se abrigavam nelas, acabaram extintos. Sobreviveram, segundo Brusatte, aqueles mamíferos que possuíam hábitos no subsolo, seja cavando ou fazendo uso de abrigos subterrâneos de outros. Outro motivo fundamental para a sobrevivência de alguns mamíferos nesse período, chamado de “Paleoceno”, foi a alimentação.

Em um habitat com pouquíssimas opções de alimentos, em que o asteroide destruiu a maioria das plantas vivas, aqueles que não dependiam de alimentação muito específica foram os que tiveram mais chance de se manter vivos. A pesquisadora de pós-doutorado em paleontologia de mamíferos em Edimburgo, Sarah Shelley, explica que o “Didelphodon”, um mamífero que lembra os gatos hoje, se alimentava de pequenos animais. Mas, com a extinção deles, o bicho sem presas para caçar animais maiores acabou desaparecendo.

“Os animais que passaram pela extinção sobreviveram basicamente por não serem muito especializados”, explica Shelley. A principal fonte de alimentação que permaneceu na época eram as sementes. Além de ajudar na alimentação de mamíferos, as sementes foram essenciais para restabelecer as florestas e outras vegetações quando o inverno nuclear acabou.

Por fim, o último motivo da permanência e perpetuação de algumas espécies de mamíferos nesta época foi a permanência do tamanho do cérebro destes animais. Com os ecossistemas se recuperando, os animais que sobreviveram passaram a se desenvolver e ocupar habitats que antes eram ocupados por seus predadores. Apesar do eventual aumento de seus corpos, seus cérebros permaneceram pequenos.

A importância da adaptação

A pesquisadora da Universidade de Edimburgo, Ornella Bertrand, acha a descoberta muito importante porque  questiona a afirmação de que a inteligência é o único diferencial que faz uma espécie sobreviver e dominar o planeta, como o caso dos seres humanos.

“A partir dos dados, não foram os cérebros grandes que fizeram os animais sobreviverem após o asteroide”. A pós-doutora em paleontologia explica que um cérebro grande exige do corpo um grande esforço, já que exige maior alimentação para poder dar energia a ele. O que salvou os mamíferos neste momento, e o que deu origem a vasta variedade de espécies de mamíferos hoje, como os próprios seres humanos, foi a grande capacidade destes indivíduos de se adaptarem.

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