Senso comum e experiências de vida são algumas diferenças entre a inteligência humana e a artificial
O ChatGPT tem causado discussões e polêmicas desde seu surgimento. Seja no campo profissional ou na educação, os efeitos da inteligência artificial estão sendo questionados. Buscando responder se a substituição de escritores e pensadores humanos é possível por um chatbot, o professor de Psicologia da Universidade de Harvard, Steven Pinker, traz alguns pontos para o debate.
Autor do livro “The Language Instinct”, o pesquisador estuda as ligações entre a mente, a linguagem e o pensamento humano. Há 25 anos, dando palestras sobre como nem a melhor inteligência artificial supera a inteligência humana, ele ficou preocupado. Analisando a nova tecnologia, ele argumenta que sim, o chatbot tem uma capacidade impressionante de gerar “uma prosa plausível, relevante e bem estruturada”, entretanto, segundo ele, a IA não compreende fatos básicos do mundo, porque lhe falta a experiência que só a vida humana pode proporcionar, além do senso comum.
Problemas
“Quando perguntei ao ChatGPT: ‘Se Mabel estava viva às 9h e 17h, ela estava viva ao meio-dia?’ respondeu: ‘Não foi especificado se Mabel estava viva ao meio-dia. Ela é conhecida por estar viva às 9 e 5, mas não há informações sobre ela estar viva ao meio-dia'”, lembra Pinker. Ou seja, a tecnologia ainda não tem algo que o ser humano desenvolve que é o senso comum. A inteligência artificial precisa que o fato esteja explicitamente representado, como por exemplo, que uma vez morto, o ser humano permanece morto.
Este é para o professor um dos maiores problemas do chat. Mesmo que suas respostas soem corretas, ou que tenham aparência de competentes “torna seus erros ainda mais impressionantes”. Criando e divulgado informações falsas, confabulações como a de que os Estados Unidos tiveram quatro presidentes mulheres, o que nunca aconteceu.
Representação de mundos
Não apenas pelos erros, mas segundo o pesquisador é impossível criar uma inteligência artificial que abranja todas as mentes humanas concebíveis. Se o que o ser humano pensa e escreve vem de uma realidade empírica, individual em que ele próprio vivencia, não é possível que haja esta substituição. “A inteligência artificial consiste em um conjunto de algoritmos para resolver tipos específicos de problemas em tipos específicos de mundos…Não existe um algoritmo maravilhoso onisciente e onipotente: existem tantas inteligências quanto objetivos e mundos”, explica.
Em entrevista para The Harvard Gazette, Pinker deixa claro que não é possível a substituição, mas que a IA pode e deve ser aliada da sociedade. “Para apenas uma ferramenta, como um mecanismo de busca, em que você deseja apenas a recuperação de informações úteis, posso ver que um LLM (nome dado ao tipo de linguagem usada pela IA) pode ser tremendamente útil – desde que pare de inventar coisas”, ressalta.