SOCIEDADE

Muros e cercas interrompem sonho de imigrantes

Mais de 70 muros e cercas estão espalhados pelo planeta, impedindo a passagem de refugiados

Da redação | 19 de dezembro de 2022 - 17:47

Em meio à onda de nacionalismo xenófobo que se espalha pelo mundo, cresce o número de muros e cercas – muitas eletrificadas – que constituem um pesadelo para imigrantes, além de uma séria ameaça para a vida selvagem.

Da fronteira entre Estados Unidos e México às estepes da Ásia Central, das pradarias da África às montanhas do Sudeste Asiático, essas barreiras se espalham em regiões até então preservadas pela natureza.

Atualmente, existem 74 muros e cercas espalhados por diversos pontos do planeta, segundo levantamento feito pela professora Elizabeth Vallet, da Universidade de Quebec, no Canadá. Esse número é 6 vezes maior do que o total existente ao final da Guerra Fria, na década de 90.

Somadas, essas barreiras se estendem por mais de 30 mil km.  Um dos mais recentes é o muro, de quase 200 quilômetros e 6 metros de altura, erguido pela Polônia em sua fronteira coma Bielorússia. O objetivo é barrar a entrada de imigrantes vindos da África e Oriente Médio, que o governo bielorusso encaminhava para o território polonês.
Muros e Cercas

74 muros e cercas espalhados por todos os continentes (Foto:United Nations)

O muro polonês faz parte de uma série iniciada em 2015, quando o fluxo de imigrantes para a Europa se intensificou. A Grécia e Bulgária cercaram suas fronteiras com a Turquia. A Hungria, governada pelo nacionalista Viktor Orban, levantou mais de 300 km de cercas em suas fronteiras com a Sérvia e Croácia. A Eslovênia ergueu uma cerca com a Croácia. A Áustria fez o mesmo com a Eslovênia. E a Macedônia do Norte construiu uma cerca metálica para se isolar da Grécia.

Após o início da guerra na Ucrânia, a Lituânia construiu uma cerca de mais de 400 km na fronteira com a Bielorússia, cujo regime nacionalista e ditatorial é um forte aliado de Moscou. Essa divisória se estende à fronteira da Lituânia com a própria Rússia.  Em Outubro, os principais partidos políticos da Finlândia aprovaram, por unanimidade, a construção de uma cerca de mais de 1.000km na fronteira do país com a Rússia, com o objetivo de conter o enorme fluxo de refugiados russos.

Por sua vez, os Estados Unidos construíram mais de 3.000km de muros e cercas na divisa com o México, na tentativa de conter o interminável fluxo de imigrantes latino-americanos.

Vida Animal

Além de interromper os sonhos de uma vida melhor para milhares de imigrantes, também provocam um forte impacto na vida animal. Eles bloqueiam as migrações sazonais de várias espécies, dificultam a reprodução e acabam afetando gravemente a diversidade. Ao mesmo tempo, dificultam a busca de ambientes mais propícios pelas espécies afetadas pelas mudanças climáticas.

Na medida em que os ecossistemas mudam, com o aquecimento global, os animais tentam se deslocar para regiões onde possam se adaptar melhor, mas isso se torna impossível com os muros e cercas, muitas delas eletrificadas, explica Mark Titley, pesquisador da Universidade de Durham, no Reino Unido, autor de um estudo global sobre o impacto das novas barreiras na vida animal.

Muro de Berlim cai, mas surgem novas divisões

Quando a Cortina de Ferro caiu, no início dos anos 1990 (ele se refere à queda do Muro de Berlim e o desmoronamento da antiga União Soviética) parecia que um mundo sem fronteiras estava se tornando realidade”, afirma John Linnell, do Instituto Norueguês para Pesquisas da Natureza. Mas isso não apenas não se confirmou, como parece que a Europa está se dividindo ainda mais do ponto de vista ecológico, diz Linnell.

Para os especialistas, sem a possibilidade de circular livremente pelos seus habitats naturais, muitas espécies enfrentam o risco de desaparecer. Entre elas, o Lynx, animal já ameaçado de extinção, que tem seu habitat na Floresta de Białowieża, que se estende pela região de fronteira entre a Polônia e Bielorússia.

O elefante asiático, que ao longo de séculos se espalhou pelos territórios da Índia, Bangladesh, Myanmar e Nepal, hoje tem suas rotas de migração cortadas, o que dificulta a alimentação e a busca pela oferta abundante de água, vital para a espécie.

Da mesma forma, gazelas, raposas, lobos e dezenas de outras espécies também enfrentam uma difícil luta pela sobrevivência, nos mais diversos pontos do planeta.

“Algumas barreiras matam diretamente, como as cercas elétricas ou de arame farpado, onde muitas vezes os animais ficam presos até morrer. Outras impedem o acesso a pastagens ou forçam os animais a buscar caminhos alternativos, expondo-os aos perigos das estradas. A epidemia da construção de muros e cercas não para. E as atuais são cada vez mais fortes”, afirma Linndell.

O texto acima foi extraído de um artigo do jornalista Fred Pearce para o Yale Environment 360, site noticioso da Universidade de Yale. Pearce é autor, entre outros livros de: The Land Grabbers; Earth then and Now; e Amazing Images of Our Changing World. 

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