Uma mulher foi condenada a 45 anos de prisão, na Arábia Saudita, por suas postagens nas redes sociais, no segundo caso desse tipo, em menos de um mês.Um tribunal que julga casos “de terrorismo” no país condenou Nourah bint Saeed al-Qahtani por “usar a internet para rasgar o tecido social” e “violar a ordem pública usando a mídia social”, informou o grupo de defesa dos direitos humanos Dawn, baseado nos Estados Unidos.

Pouco se sabe sobre Nourah, além do fato de que ela criticou os líderes sauditas em suas redes sociais.Uma outra mulher havia sido condenada no país, no início de agosto, a 34 anos, também por suas publicações no Twitter.

Punição por “terrorismo”

O celular trouxe maior liberdade de expressão às mulheres nos países árabes (Foto: Pexels)

Abdullah Alaoudh, diretor de pesquisa para Arábia Saudita e Emirados Árabes do Grupo Down e professor na George Washington University, disse ao programa Newshour da rede de TV britânica BBC que seu grupo tomou conhecimento do caso de Qahtani depois de receber documentos judiciais sobre a condenação de uma fonte da Arábia Saudita.

“Nada nos documentos judiciais se refere a qualquer violência ou atividade criminosa”, argumentou Alaoudh.

“As acusações que fazem contra ela são realmente amplas. Estão usando a lei antiterrorista e a lei anticrime, que podem criminalizar qualquer postagem que seja minimamente crítica ao governo”, acrescentou.

Outras mulheres punidas

As punições contra Nourah, que chegam com razoável detalhamento ao ocidente, não são, no entanto, novidade no país. Os sauditas têm prendido várias mulheres usuárias de redes sociais desde o ano passado, por críticas aos costumes locais e ao governo nas redes sociais, espaço em que as mulheres ganharam liberdade de expressão que não tinham antes.

Alaoudh disse, por isso, temer que muitas outras também possam receber longas sentenças de prisão.

“O governo saudita está mandando um claro recado ao Ocidente, de que não se importa com os direitos humanos”, disse o professor Alaoudh.

Ataque aos Direitos Humanos

Alaoudh afirmou à BBC não ter certeza de que o presidente dos EUA, Joe Biden, encontrou-se com o príncipe herdeiro Mohammed, em Jeddah, no mês passado, justamente para formalizar reprimenda contra os atos de violência oficial a cidadãos do país. Antes da reunião, Biden havia ameaçado tornar a Arábia Saudita um “pária” comercial caso persistisse com agressões aos direitos humanos.

A Alqst, um grupo de direitos humanos com sede no Reino Unido, também expressou grande preocupação com a sentença de Qahtani, que disse ser “baseada simplesmente em (seus) tweets”.

“Como se temia, estamos testemunhando uma deterioração alarmante da situação dos direitos humanos na Arábia Saudita”, acrescentou o Alqst, em comunicado.