Mesmo sem funeral com honras de Estado, o último líder soviético foi lembrado pela população de Moscou
O ex-presidente Mikhail Gorbachev foi sepultado, na tarde de sábado, no cemitério Novodievichi, em Moscou, após as cerimônias fúnebres realizadas na Casa dos Sindicatos, por onde passaram milhares de pessoas que lhe prestaram uma última homenagem. Gorbachev morreu na terça-feira, aos 91 anos.
Por decisão do presidente Vladimir Putin, que não compareceu às cerimônias, alegando agenda de trabalho, o ex-secretário-geral do Partido Comunista soviético e ex-presidente da URSS não recebeu honras de chefe de Estado. O caixão aberto foi posicionado, no centro do salão de Colunas da Câmara dos Sindicatos, à vista do Kremlin, onde todos os líderes soviéticos anteriores foram velados. Em pouquíssimo tempo um mar de cravos vermelhos se formou em frente ao caixão, enquanto a execução da música do filme “A Lista de Schindler”. Gorbachev foi sepultado ao lado de sua esposa Raisa, que morreu em 1999.
Durante a semana, um porta-voz do Kremlin já havia adiantado que o presidente Vladimir Putin não compareceria às cerimônias fúnebres em homenagem ao ex-secretário-geral do Partido Comunista soviético, porque estava com muitos compromissos.
Gorbachev atraiu uma legião de inimigos ao tentar promover reformas democráticas e econômicas, durante o período em que esteve à frente do governo, entre 1985 e 1991. As reformas, que tiveram grandes consequências internas e externas se concentravam na Perestroika, ou Reconstrução, que levou a transformações econômicas no país, e a Glasnost, ou Transparência, destinada a promover uma abertura no regime. Mas ele não conseguiu levar adiante seus planos. Acabou perdendo o poder e o resultado foi o desmantelamento do império soviético.
Seus adversários o culpam pelo colapso da URSS, que ocorreu a partir de 1991, quando as repúblicas que faziam parte do antigo império decidiram se desligar, conquistando a independência de Moscou. Nesta altura, ele já não estava no poder, mas isso não impediu seus inimigos de culpá-lo.
Quando lançou o programa de reformas, em 1985, ele não contava com esse desmembramento. Sua intenção era promover o crescimento econômico, tirando o país da estagnação, além de permitir a renovação nos quadros do partido. Mas os acontecimentos que se sucederam às reformas surpreenderam a ele e ao mundo. Afinal, naquela altura, o império soviético tinha mais de sete décadas, e se estendia da Europa à Ásia, com inúmeros países sob seu controle político e econômico.
Mikhail Gorbachev era conhecido por seu temperamento de negociador, o que contrastava com o perfil dos dirigentes soviéticos. Buscou a aproximação com o Ocidente e tinha boas relações com a ex-primeira-ministra britânica, Margareth Thatcher, conhecida por ser conservadora e anticomunista, e com o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reaga
O fim do império começou com a saída das republicas do Báltico, Letônia, Lituânia e Estônia, que anunciaram o seu desligamento de Moscou, o que deu início a uma debandada dos demais integrantes do antigo Pacto de Varsóvia, a aliança militar comandada pelo Kremlin.
O processo culminou, em 1989, quando cidadãos da antiga Alemanha Oriental se mobilizaram para forçar a passagem para a Alemanha Ocidental, em busca da liberdade. Ao invés de mandar os tanques para reprimir as manifestações, como era tradição no regime soviético, Moscou deu sinal verde para a abertura da fronteira. Não demorou muito para que se concretizasse a reunificação da Alemanha, dividida desde o final da Segunda Guerra.
Em 1990, Gorbachev recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Para o comitê do Nobel, ele mereceu o prêmio por ter assumido um papel decisivo na pacificação entre os blocos Ocidental, representado pelos Estados Unidos e países europeus do lado Oeste e o Leste, liderado por Moscou.