Centenas de crianças e adolescentes ucranianos foram levados à força para a Rússia e internados em escolas militares
Um drama para milhares de famílias ucranianas. Sasha e Artem, de 15 anos, foram retirados à força de uma escola em Kupyansk, no nordeste da Ucrânia, em setembro do ano, passado por soldados russos armados. Os reféns da guerra foram colocados dentro de um ônibus e desapareceram por semanas sem deixar vestígios. Quando, finalmente, puderam ligar para casa, já estavam incorporados em uma escola especial, em território ocupado pela Rússia, onde recebiam formação para lutar contra a Ucrânia na guerra.
Para recuperar os adolescentes deportados, seus pais foram obrigados a percorrer milhares de quilômetros até o país que declarou guerra contra a Ucrânia, para provar que os jovens tinham famílias e deveriam ser devolvidos a elas. Mesmo assim, apenas oito dos 13 adolescentes retornaram de Perevalsk até agora.
Os garotos ucranianos que conseguiram retornar para suas famílias disseram que na escola especial eles eram obrigados a vestir o uniforme do exército invasor e carregavam a marca Z da guerra da Rússia estampada na manga direita, colorida nas cores vermelha, branca e azul da bandeira russa.
Ao conversar por telefone com o diretor da Escola Especial de Perevalsk, uma das mães questionou isso, afirmando que o “Z” simbolizava a guerra contra o próprio país das crianças. “E daí?”, respondeu o diretor. “Que pergunta é essa? Ninguém está forçando nada”, retrucou o chefe da escola.
Além de Perevalsk, outras escolas especiais nas cidades ocupadas de Kupyansk, no leste, e Oleshki, no sul da Ucrânia, também fazem parte da estratégia militar russa de recrutar crianças e adolescentes para lutarem contra o exército da Ucrânia. Por causa dessas evidências, em março, o Tribunal Penal Internacional emitiu uma ordem de prisão contra o presidente russo, Vladimir Putin, e contra a Comissária dos Direitos da Criança da Rússia, Maria Lvova-Belova, por crimes de guerra.
Os dois são acusados pela deportação ilegal de pelo menos 19.000 crianças ucranianas que foram retiradas de áreas ocupadas desde a invasão, em fevereiro de 2022. As autoridades russas alegam que a deportação dos menores ucranianos foi motivada por questões puramente humanitários, para proteger as crianças do perigo da guerra.
Para os pais de Sasha e Artem, o drama chegou ao fim com o retorno dos filhos para casa. Mas, até isso acontecer, eles lembram que as autoridades russas tentaram de todas as formas dificultar a localização das crianças, pois, segundo o que dizem, os menores ucranianos eram frequentemente informados de que não voltariam para seu país, além da forte doutrinação “patriótica” a que eram submetidos nas escolas russas para eliminar todos os traços da cultura ucraniana.
O sentimento comum entre as famílias ucranianas é de que a Rússia, liderada por Vladimir Putin, declara abertamente que tudo nas áreas ocupadas da Ucrânia é seu, inclusive as crianças.