Professores vão fazer mais exames orais, trabalhos em grupo e avaliações na sala de aula por causa dos chatbots
The New York Times
Ao corrigir redações para seu curso de religiões em dezembro do ano passado, Antony Aumann, professor de filosofia da Universidade do Norte de Michigan, leu o que parecia ser “o melhor texto da classe”. Explorava a moralidade da proibição do uso da burca com parágrafos limpos, exemplos adequados e argumentos rigorosos. Porém, um alarme soou instantaneamente na cabeça dele.
Aumann confrontou seu aluno, perguntando se ele mesmo havia escrito o ensaio. O jovem confessou ter usado o ChatGPT, modelo de inteligência artificial criado para conversar com as pessoas de modo natural, que fornece informações, explica conceitos e gera ideias em frases simples e que, nesse caso, fez o texto do trabalho solicitado.
Alarmado com sua descoberta da fraude, Aumann planeja exigir que os alunos escrevam os primeiros rascunhos na sala de aula, usando computadores que têm restrições de navegação. O professor, que pode deixar as redações de lado nos próximos semestres, também planeja incluir o ChatGPT nas aulas, pedindo aos alunos que avaliem as respostas do chatbot. “Eu acho que a aula no futuro vai ser: vamos ver o que esse robô também pensa sobre esse assunto?”, disse ele.
Nos EUA, professores universitários como Aumann, chefes de departamento e administradores estão começando a reformular as aulas em resposta ao ChatGPT, provocando uma mudança enorme no ensino e na aprendizagem. Entre as medidas, eles devem fazer mais exames orais, trabalhos em grupo e avaliações manuscritas em vez de digitadas.
No ensino superior, faculdades e universidades têm resistido em proibir a ferramenta de inteligência artificial (IA) porque os administradores duvidam que a medida seja eficaz e não querem impedir a liberdade acadêmica, o que significa que a maneira como as pessoas ensinam está mudando. “Tentamos instituir políticas gerais que certamente apoiem a autoridade do membro do corpo docente para administrar uma aula, em vez de apontar métodos específicos de trapaça. Essa não vai ser a última inovação com que vamos ter de lidar”, afirmou Joe Glover, reitor da Universidade da Flórida.
Isso é especialmente verdadeiro porque a IA está nas primeiras gerações. Espera-se que a OpenAI, empresa que criou o ChatGPT, lance em breve outra ferramenta, a GPT-4, ainda melhor na produção de textos do que as versões anteriores. O Google construiu o LaMDA, chatbot rival, e a Microsoft está discutindo um investimento de US$ 10 bilhões na OpenAI. Startups do Vale do Silício, incluindo a Stability AI e a Character.AI, também estão trabalhando em ferramentas de IA generativas.
Um porta-voz da OpenAI declarou que o laboratório reconheceu que seus programas podem ser usados para enganar as pessoas e está desenvolvendo uma tecnologia para ajudar a identificar um texto gerado pelo ChatGPT.
Em instituições como a Universidade George Washington, em Washington, D.C., e a Universidade Estadual dos Apalaches, em Boone, na Carolina do Norte, os professores estão gradualmente eliminando as tarefas com consulta. Alguns educadores estão elaborando perguntas que eles esperam que sejam inteligentes demais para os chatbots e pedindo aos alunos que escrevam sobre a própria vida e sobre eventos atuais. “Os alunos estão plagiando porque as tarefas podem ser plagiadas”, resumiu Sid Dobrin, presidente do departamento de inglês da Universidade da Flórida.