População mundial está mais vulnerável à insegurança alimentar e doenças causadas pelo aquecimento global
A dependência dos combustíveis fósseis, em escala global, aumenta o risco de insegurança alimentar, doenças infecciosas e doenças relacionadas ao calor. É o que revela um estudo recente publicado na revista The Lancet. Os autores destacam que o impacto das mudanças climáticas está afetando cada vez mais a saúde e o bem-estar das pessoas, aumentando a vulnerabilidade das populações do mundo a inúmeras doenças. A exposição a altas temperaturas, por exemplo, agrava problemas cardiovasculares e respiratórios, que podem resultar em enfarte ou derrame.
Após a divulgação do estudo pela Lancet, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, advertiu que, ou os líderes mundiais se conscientizam para a gravidade das mudanças climáticas, ou o planeta vai enfrentar um catástrofe. O estudo da revista científica e o pronunciamento de Guterres ocorrem menos de duas semanas antes do inicio da Conferência do Clima da ONU, a COP27, que será realizada em Sharm-el-Sheik, no Egito, entre 6 e 18 de Novembro.
De acordo com o estudo, a mortalidade relacionada ao calor para pessoas com mais de 65 anos aumentou vertiginosamente em 43 países analisados. O crescimento da taxa de mortalidade foi de 68% entre os períodos de 2000 e 2004 e de 2017 a 2021. Apenas em 2021, a exposição ao calor levou à perda de 470 bilhões de horas de trabalho potenciais, um aumento de 37% em relação ao período entre 1990 e 1999.
Por todas essas razões o secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou os líderes mundiais a criarem medidas de mitigação das mudanças climáticas. “Precisamos falar a verdade. E a verdade é que o impacto das mudanças climáticas em inúmeros países, especialmente os mais expostos, é devastadora”, disse Guterres. A persistir a atual situação, segundo ele, o mundo estará caminhando para um desastre sem precedentes.
Guterres defende que os países intensifiquem os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e investir mais em energia renovável. Por último, ele renovou o pedido para que os países ricos liberem os 100 bilhões de dólares prometidos às nações em desenvolvimento com o objetivo de enfrentar as consequências do aquecimento global. De 2000 a 2021, as populações em todo o globo foram expostas a um aumento médio da temperatura no verão duas vezes maior que a média global.
De 2000 a 2021, as populações em todo o globo foram expostas a um aumento médio da temperatura no verão duas vezes maior que a média global.
Este ano foram registrados recordes de temperatura em todo o mundo. O Reino Unido, por exemplo, registrou 40°C em julho. A exposição ao calor extremo está associada a lesões renais agudas, insolação, resultados adversos para mulheres grávidas, piora dos padrões de sono, impactos na saúde mental, agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias e aumento de mortes não acidentais.
No período de 2012 a 2021, em média, quase 47% da área terrestre global foi afetada por pelo menos 1 mês de seca extrema a cada ano, um aumento de 29% em relação ao período de 1951 a 1960.
O Oriente Médio e o norte da África, onde 41 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 66 milhões não têm serviços de saneamento básico, foram os mais afetados, com algumas áreas experimentando mais de 10 meses de seca extrema.
Com o aquecimento médio da superfície global de 1,1oC, desde a Revolução Industrial, houve um aumento do risco de doenças relacionadas ao calor, alterando o padrão de transmissão de doenças infecciosas, elevando os riscos à saúde por causa de eventos extremos e colocando em risco o saneamento com impactos multidimensionais na segurança alimentar e hídrica, bem como no risco à subsistência de muitas comunidades.