Deputado republicano não consegue explicar gastos de mais de 360 mil dólares
Uma reportagem do jornal The New York Times revelou diversas inconsistências na prestação de contas de campanha do deputado George Santos, eleito em novembro do ano passado para uma vaga no Congresso. Entre as mais gritantes estão os gastos de US$ 365 mil (cerca de 2 milhões de reais), que ele não consegue explicar.
São despesas misteriosas, que não informam destinatários, não têm recibos e representam quase 12% das despesas totais da campanha de Santos. O jornal apurou que essa despesa é atípica e ultrapassa a média de gastos para candidatos ao Congresso.
Analistas entendem que sem as especificações de cada gasto nos relatórios enviados à Comissão Eleitoral Federal (FEC), é praticamente impossível determinar se George Santos gastou o recurso de campanha em propósitos eleitorais legítimos. Mas podem sugerir uma tentativa de encobrir gastos indevidos que violam as leis de financiamento de campanha nos EUA.
Vários doadores disseram que a campanha de George Santos declarou valores bem diferentes daqueles que foram realmente doados, alguns até acima do limite legal.
Andrew Intrater, afirma ter doado US$ 250.000 para a campanha e vários grupos políticos conectados a Santos em 2022. Mas, desse total, US$ 95.000 não foram declarados nos relatórios financeiros exigidos pelo estado.
“Nunca vi nada assim”, afirmou Bill McGinley, advogado de um dos doadores do Comitê Nacional Republicano do Senado, após examinar alguns dos relatórios de contribuição de Santos.
Na prestação de contas do deputado, chama a atenção também uma quantidade incomum de pagamentos em valores de (exatamente) US$ 199,99, ou seja, dois centavos abaixo do limite estabelecido pela legislação eleitoral americana que obriga a descrição detalhada dos gastos.
Há muitas despesas com alimentação. Uma refeição em um restaurante japonês que, inicialmente, custou US$ 60,54, depois foi alterada para US$ 199,99. Aliás, essa passou a ser estratégia de Santos para justificar os gastos exorbitantes.
Em abril de 2022, ele justificou o gasto de mais de US$ 250.000 distribuídos em mais de 1.200 pagamentos a anônimos e quase todos por US$ 199,99. E nenhuma das despesas tinha qualquer descrição além das datas.
Nos Estados Unidos, as campanhas não precisam detalhar ou fornecer recibos para despesas inferiores a US$ 200. Mas se um candidato gastar mais de US$ 200 com um único fornecedor – mesmo que o valor tenha sido dividido em várias transações – ele é obrigado a detalhar cada despesa.
Especialistas em finanças afirmam que para justificar os inexplicáveis US$ 365 mil gastos em pequenas rubricas de US$ 200 ou menos, o deputado teria que fazer negócios com mais de 1.800 fornecedores diferentes – seis vezes mais do que as 270 operações listadas nos relatórios encaminhados à Comissão Eleitoral Federal.
Santos foi generoso com outros candidatos doando dinheiro para as campanhas de colegas republicanos. Seu comitê de campanha principal doou mais de US$ 180.000 para outras campanhas e comitês. Mas os valores e nomes listados em seus registros nem sempre correspondem àquilo que seus destinatários declararam.
Os problemas contábeis se estendem a quase duas dúzias de doações feitas pelo comitê de Santos.
O diretor de comunicação do escritório de George Santos não quis comentar as informações reveladas pela reportagem do New York Times. O advogado de Santos, Joe Murray, disse que não seria apropriado nenhum comentário, uma vez que as investigações sobre os gastos de campanha ainda estão em andamento.