INTERNACIONAL

“General Inverno” falha e prejudica estratégia de Putin para dobrar ucranianos

Presidente russo contava com o Inverno para vencer a resistência da Ucrânia e forçar um acordo nos termos de Moscou

Por: Carlos Taquari
Da redação | 24 de fevereiro de 2023 - 21:55

Desta vez, a história não se repetiu. Ao contrário das vitórias alcançadas contra Napoleão, no século 19, e contra as tropas de Hitler, na Segunda Guerra, agora o “General Inverno” não garantiu a vantagem para os russos.

O presidente Vladimir Putin contava a queda nas temperaturas, que giram em torno de 5 a 10 graus negativos, no Inverno ucraniano, mas podem chegar a -20 em algumas regiões, para esmagar a resistência dos ucranianos.

De acordo com a estratégia desenhada pelos teóricos militares do Kremlin e adotada por Putin, sob frio intenso e a falta de alimentos a população ucraniana iria pressionar o governo para aceitar um acordo com Moscou. E a base desse acordo, tendo em vista que as tropas russas ocupam cerca de 1/3 da Ucrânia, seria a entrega desses territórios ao domínio russo. Assim como aconteceu com a península da Criméia, tomada em 2014.

Putin guerra

Civis ucranianos mostram uma incrível resistência aos ataques da Rússia. (Crédito: AP)

Como parte dessa estratégia, desde Outubro, ou seja, antes do início do Inverno, as tropas russas passaram a bombardear intensamente a infraestrutura de produção e transmissão de energia, na tentativa de deixar o país às escuras. Parte desse objetivo foi alcançado e inúmeras cidades ficaram sem energia elétrica. Entre os alvos dos ataques estão as subestações de energia e as linhas de transmissão, de maneira que, se existe fornecimento numa área, torna-se impossível transmitir para outra. Os jornais e a mídia digital na Rússia publicaram inúmeros comentários de figuras ligadas ao governo, afirmando que “os ucranianos vão congelar e implorar por um acordo”.

Mas Putin não havia combinado com todas as partes envolvidas no conflito. E inúmeros fatores contribuíram para o fracasso da estratégia, que foram:

– A população ucraniana revelou uma tenaz resistência diante das dificuldades enfrentadas, como o frio, a fome e a perda de familiares mortos ou feridos em combate.

– Os países Ocidentais, incluindo Estados Unidos, Alemanha, França, Espanha e Itália, além da Polônia, um vizinho que já sofreu sob o domínio de Moscou, organizaram uma corrente de ajuda à Ucrânia. Armas, munições, alimentos, medicamentos, dinheiro e até geradores de energia foram e continuam sendo despachados para os ucranianos.

– O governo do presidente Volodymyr Zelensky se manteve firme na defesa da integridade territorial do país e procura manter acesa a chama da independência entre a população.

Mãe atende a filha que tem problemas respiratórios numa barraca de emergência montada pelo governo ucraniano. (Foto: Twitter)

– Para um país sob intenso ataque de forças estrangeiras, o governo soube se reorganizar. O fornecimento de energia é suspenso várias vezes ao dia, dentro de uma escala de racionamento, para que a população possa, pelo menos por algumas horas, cozinhar ou realizar outras atividades, ainda que de forma precária.

– Durante os blackouts, médicos realizam cirurgias sob lampiões, famílias cozinham refeições em fogões a lenha e mães levam seus filhos para barracas de emergência montadas pelo governo, onde conseguem esquentar um chá, uma mamadeira e carregar seus celulares.

ONU denuncia violações

Os ataques a alvos civis – em um ano a guerra deixou mais de 8 mil civis ucranianos mortos, incluindo crianças – constituem uma violação das leis humanitárias internacionais, segundo alertou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.  Por sua vez, a Human Rights Watch, organização internacional de defesa dos direitos humanos, divulgou relatório afirmando que o objetivo da tática de Moscou era espalhar o terror entre a população civil, o que consiste numa violação da Convenção de Genebra, assinada pela maioria dos países do mundo.

Nas palavras do Ministro de Energia, Yaroslav Demchenkov, “a Rússia está tentando roubar a energia de nossos lares, mas eles não conseguirão tirar a luz do coração dos ucranianos ou dobrar nossa resistência”.

Leia também:
Sob os céus de Paris, uma homenagem à Ucrânia
Bilionário norte-americano encontrado morto

+ DESTAQUES