Inflação ainda preocupa, mas a perspectiva é menos sombria do que a prevista anteriormente pelos economistas do Fundo
The Washington Post
As perspectivas para a economia global melhoraram inesperadamente, com Estados Unidos, Europa e China superando as expectativas e evitando – pelo menos por enquanto – a ameaça de recessão. Análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento global de 2,9% em 2023, um ritmo mais lento do que no ano passado, mas 0,2% acima da previsão feita em Outubro. A inflação mundial deve cair para 6,6% neste ano, ante uma média global de 8,8% no ano passado.
“A perspectiva é menos sombria do que em nossa previsão de outubro”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, a repórteres. “Não estamos vendo uma recessão global agora”.
O Fundo descartou a previsão feita em Outubro de que um terço de todos os países do mundo iria entrar em recessão, até o final desse ano. Mas destacou que algumas grandes economias vão desapontar. O Reino Unido, por exemplo, será o único entre as grandes potências a sofrer uma queda no PIB, em relação ao ano passado.
Grande parte da melhoria nos três principais motores econômicos do mundo – EUA, China e Europa Ocidental – é mais o resultado de desastres evitados do que qualquer novo boom.
Os empregadores americanos continuam contratando em um ritmo constante, enquanto os últimos indicadores de manufatura europeus sinalizam expansão e os consumidores chineses estão gastando novamente.
Nos Estados Unidos, os aumentos mais rápidos da taxa de juros do Federal Reserve em 40 anos ainda não levaram a economia à recessão, já que empregadores como a Boeing e a Chipotle planejam contratar milhares de novos trabalhadores. A escassez de energia que alguns temiam que estrangularia as fábricas europeias não se materializou por causa do inverno relativamente ameno. E os líderes chineses libertaram abruptamente sua economia de severas restrições em dezembro, meses antes do que os investidores previam.
EUA ainda não escaparam
Nos Estados Unidos, onde a maioria dos analistas ainda prevê uma recessão já neste primeiro semestre, os formuladores de políticas podem conseguir conduzir a economia superaquecida a um “pouso suave” – controlando a inflação sem mergulhar em uma desaceleração, disse o FMI.
Até 2024, o fundo espera que a economia dos Estados Unidos ainda enfrente dificulddes, com os preços caindo e a taxa de desemprego chegando a 5,2%, acima dos 3,5% atuais.
“Ainda estamos vendo um caminho estreito para se evitar uma recessão”, disse Gourinchas.
Taxa de juros
A perspectiva global mais otimista do fundo ocorre quando os bancos centrais dos Estados Unidos, Europa e Inglaterra devem aumentar as taxas de juros esta semana para continuar a luta anti-inflação. É provável que o Federal Reserve eleve sua taxa básica de juros em 0,25 ponto; os investidores esperam movimentos de meio ponto do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra.
As preocupações com uma grave crise energética na Europa, que está se livrando da dependência do fornecimento de gás natural russo, diminuíram, de acordo com a pesquisa de empresas que empregam coletivamente cerca de 6 milhões de pessoas e têm receita de US$ 2 trilhões, segundo pesquisa da Oxford Economics deste mês.
A capacidade da Europa de lidar com a perda de gás russo é fundamental para a melhora da economia global, de acordo com Christian Keller, chefe de pesquisa econômica do Barclays.
Nos países da zona do euro, a diminuição da pressão sobre o custo da energia contribuiu para quedas mensais consecutivas da inflação, que permanece elevada em 9,2%.
Reabertura da China
A reabertura repentina da China – após quase três anos de restrições draconianas e cobiçosas – também abalou as fortunas globais. Embora o renascimento da atividade de consumo e negócios leve tempo, os primeiros sinais são positivos.
“A maioria das indicações é de que dezembro foi o ponto mais baixo e agora temos a reabertura da segunda maior economia do mundo. Isso é uma boa notícia para o crescimento global, ponto final”, disse ele.
Alguns analistas temem que a recuperação da China possa elevar os preços globais do petróleo, complicando a luta contra a inflação e forçando os bancos centrais a continuar aumentando as taxas de juros. Mas mesmo com as fábricas e usinas de energia chinesas devorando petróleo, a demanda cairá em outros lugares à medida que a atividade global desacelera em relação ao ano passado, de acordo com o FMI, que espera que os preços do petróleo caiam ao longo do ano.
(Foto da capa de Giorgio Trovato na Unsplash)