Ao observar alguém estressado você pode ser contaminado por esse tipo de ansiedade como se fosse um vírus
A descoberta não é recente. Há doze anos, o neurocientista Tony W. Buchanan, da Universidade de St. Louis, em Missouri, nos Estados Unidos mediu os níveis de ansiedade de pessoas que estavam simplesmente observando o estresse nos outros.
O experimento mostrou que o nível de cortisol (o hormônio do estresse) dos observadores aumentou consideravelmente por meio de um fenômeno chamado de “contágio do estresse”, que nada mais é do que a propagação da ansiedade de uma pessoa para outra como se fosse um vírus.
Você provavelmente já experimentou esse contágio do estresse. Imagine a seguinte cena. Um amigo se aproxima e começa a reclamar do trabalho ou do parceiro por alguns minutos. De repente, mesmo sem ter relação com esses problemas do outro, você já está respirando mais rápido e se sentindo um pouco nervoso ou nervosa.
De acordo com os cientistas, isso acontece porque como você ouviu relatos estressantes, o corpo dá uma injeção rápida de adrenalina e cortisol – os hormônios do estresse que são liberados em situação de emergência, e você acaba vibrando na mesma frequência.
O que há de novo é o desejo de provar se essa contagiosidade do estresse acontece com todos os animais. Os cientistas acreditam que o estresse pode passar por canais completamente distintos, como a emissão de sons desagradáveis, ruidosos ou agudos, grasnidos, rangidos, chiados, gritos breves e agudos e até arrepios.
O resultado dessas descobertas sobre o comportamento dos animais pode ajudar a ciência a desvendar os mecanismos e as consequências da transmissão do estresse nos seres humanos.
Os pesquisadores estão tentando entender como esses processos podem acontecer simultaneamente em pássaros, humanos, peixes e camundongos para que se tenha o mesmo fenômeno ocorrendo em espécies muito diferentes que evoluíram para um nível muito diferente, explica Jens Pruessner, professor de psicologia da Universidade McGill, em Montreal, Canadá.
Pesquisas científicas mostram que, com o passar do tempo, choques frequentes de estresse são corrosivos para o corpo e para a reprodução, uma vez que impactam diretamente a produção de testosterona e estrogênio, os hormônios sexuais masculino e feminino.
Mas o principal efeito do estresse ocorre no cérebro. O neurocientista Jaideep Bains, da Universidade de Calgary, no Canadá, investiga como o estresse passa de indivíduo para indivíduo.
Em experimentos em laboratório com camundongos ele descobriu que um camundongo estressado emite um feromônio (substância química mensageira associada sobretudo à sexualidade e alerta de perigo), que é então cheirado por um camundongo próximo e este recebe a informação.
“É um sinal químico silencioso, que só é detectado por aqueles que estão muito próximos de você, uma ótima maneira de informar aos outros que existe um perigo”, explica Bains.
A grande contribuição da pesquisa de Bains é que as conexões neuronais em um camundongo que cheira feromônios de estresse se tornam idênticas ao camundongo que experimentou o estressor pela primeira vez. Em outras palavras, o cérebro do camundongo que sentiu o cheiro de um outro indivíduo estressado tem as mesmas reações estressantes como se as tivesse vivido.
A pesquisa também comprovou que esse contágio é progressivo e indiscriminado. Um camundongo estressado pode transmitir a informação para um segundo roedor e esse roedor pode levá-la para outro animal. E o terceiro camundongo mostra as mesmas mudanças causadas pelo estresse em seu cérebro.
Bains acredita que essas descobertas têm implicações para os seres humanos, pois, tal como os camundongos, também somos suscetíveis de sermos afetados pela a ansiedade dos outros.
“Pensamos em nós mesmos como indivíduos que têm nossas próprias experiências e não pensamos muito em como as experiências dos outros e o que eles estão passando também podem nos moldar,” concluiu o pesquisador.