Há quem se veja como uma importante fonte de conhecimento, mas não é bem assim
A mente humana tende a criar uma armadilha muito comum chamada de a “ilusão do conhecimento” ou Ilusão da Profundidade Explicativa (IOED). E essa ilusão gera um excesso de confiança que pode contaminar o nosso julgamento em várias situações do cotidiano, pois ela superdimensiona o que de fato sabemos sobre determinado assunto. Isto é o que afirmam pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que aplicaram testes de conhecimento em participantes de vários grupos, diferenciados por idade e formação.
O estudo foi realizado pelos psicólogos Leonid Rozenblit e Frank Keil. Os resultados foram esclarecedores para comprovar a Ilusão da Profundidade Explicativa e os seus efeitos no mundo real.
Quanto, de fato, nós sabemos?
Já ouviu o ditado: “não importa o quanto você sabe, mas o quanto as pessoas acham que você sabe”? Este pensamento é baseado na crença (defasada) de que para ganhar respeitabilidade é preciso demonstrar erudição ou um amplo repertório.
Mas, os testes aplicados por Rozenblit e Keil jogaram por terra essa crença. No estudo, os participantes eram desafiados a explicar alguns fenômenos científicos e mecanismos tecnológicos, que foram pontuados em uma escala de 1 (muito vago) a 7 (muito completo).
Em primeiro lugar, os colaboradores eram convidados a avaliar o quanto entendiam sobre o funcionamento de determinados artefatos, como velocímetro de carro, máquina de costura ou um telefone celular. Depois, os psicólogos pediam para que cada um escrevesse de forma detalhada como se dava o funcionamento de cada equipamento.
Numa terceira rodada, os participantes avaliavam novamente, em forma de notas (de 1 a 7), até que ponto entendiam mesmo sobre aqueles temas. O objetivo do estudo era fazer com que os participantes julgassem eles próprios o seu nível de compreensão sobre os objetos listados com a perspectiva de que precisariam explicar como eles funcionavam.
Após todas as etapas do teste, as notas caíram substancialmente. O resultado mostrou que, ao serem desafiados a explicar uma determinada questão, os colaboradores eram obrigados a reconhecer que sabiam muito menos do que imaginavam.
Pegadinha da mente
Os cientistas explicam que essa percepção distorcida é reflexo de uma “pegadinha” da mente.
As avaliações iniciais mostraram que a compreensão de todos os participantes do estudo de Rozenblit e Keil era excessivamente otimista. Ou seja, a maioria acreditava que seria capaz de escrever vários parágrafos sobre o assunto, mas, na hora da verdade, falharam e não passaram de uma resposta superficial.
A pegadinha reside exatamente nesse ponto. Por termos muita familiaridade com um objeto ou assunto, temos a impressão de que conhecemos o tema a fundo. E isso é reforçado porque raramente nossos conhecimentos são colocados à prova, como nos testes feitos pelos pesquisadores da Universidade de Yale.
Em outras palavras, o mundo a nossa volta nos inspira a achar que somos uma fonte de conhecimento sobre os mais variados assuntos. Mas não é bem assim. Embora tenhamos muitas habilidades e conhecimentos, é bem provável que saibamos menos do que pensamos em relação a determinados assuntos, principalmente aqueles que não fazem parte da nossa área de atuação ou de especialização.
Do ponto de vista prático, o excesso de confiança pode levar à preguiça mental. Por exemplo, ao achar que já sabe o bastante, uma pessoa pode relaxar na preparação de um relatório, apresentação, compromisso de trabalho, uma entrevista de emprego. E, por causa dessa postura, pode passar maus bocados ao ser pressionado a demonstrar seus verdadeiros conhecimentos.
Para escapar da armadilha do pensamento, os psicólogos recomendam o exercício da humildade cognitiva.
Uma solução simples é testar tudo, antes de tomar qualquer decisão.
Não confie apenas em uma ideia vaga e básica sobre determinado tema. Investigue, pesquise, pergunte a um especialista. Assim, você terá condições de descobrir se há lacunas em seu conhecimento que precisam ser preenchidas antes de se apresentar para uma ação ou tarefa.
Ampliando os cenários, a ilusão do conhecimento se refere também à maneira como pensamos sobre ciência, política, economia, religião, futebol e muito mais.
Já está suficientemente provado que somente após tentar explicar algo é que conseguimos perceber o quanto desconhecemos sobre determinado assunto.
Desse modo, o desafio é cultivar a humildade como uma das clássicas virtudes intelectuais celebradas pelos filósofos.
O físico Stephen Hawking entendia que o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento.
Assim, superestimar o nosso conhecimento e adotar uma postura de arrogância intelectual são caminhos a serem evitados.
Pois, lembre-se! Alguém pode desafiá-lo a explicar precisamente porque acha que está certo.