MEIO AMBIENTE
Foto de Moritz Knöringer, na Unsplash

Europa busca meios para enfrentar o calor e a seca

Clima árido acena para a insegurança alimentar e aumento na inflação. Cientistas falam em "um novo normal"

Por: Carlos Taquari
Da redação | 20 de abril de 2023 - 20:55
Foto de Moritz Knöringer, na Unsplash

Bloomberg

O calor e a seca recordes afetam os agricultores da Europa,  empresas do setor de energia e a própria população do continente. Os cientistas alertam que a seca deve se acentuar, com novos recordes de temperaturas previstos para este ano. Atualmente, a seca já está murchando as safras e atrasando o plantio em alguns dos principais produtores do continente, acenando com um novo aumento da inflação nos alimentos.

“Já tempos alguns relatos de estresse hídrico em países mediterrâneos”, disse Samantha Burgess, vice-diretora da Copernicus o centro de observação do clima da União Europeia. “A menos que tenhamos chuvas significativas na Primavera, a probabilidade de que a oferta de água fique abaixo da média continuará”, afirma Burgess.

Documento divulgado pelo Copernicus Climate Change assinala que é preciso se preparar para a vida num planeta mais quente. Segundo o documento são necessárias políticas que permitam aos 450 milhões de habitantes do continente enfrentar mudanças como a redução na quantidade de terras produtivas, menor disponibilidade de água e mais incêndios florestais.

O clima árido significa colheitas reduzidas, que acenam com a insegurança alimentar. Os níveis dos rios são tão baixos que dificultam o transporte fluvial e levam ao fechamento de usinas de energia. Diante disso, o bloco europeu busca maneiras de preservar os recursos hídricos, a cada ano mais escassos.

A França já está impondo medidas restritivas para o uso da água, seja em áreas residenciais ou na agricultura. “Estamos entrando num território desconhecido, onde nossa experiência coletiva será menos útil do que era há algumas décadas”, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus.

Graças aos investimentos da União Europeia, o Copernicus já é o maior fornecedor mundial de dados climáticos. O programa usa bilhões de medições de satélites, navios, aviões e estações meteorológicas em todo o mundo para suas previsões mensais e sazonais. Junto com a Agência Espacial Europeia – ESA – o centro desempenha papel fundamental no esforço da UE para se antecipar às mudanças climáticas por meio de previsões precisas. Com esse objetivo, o bloco já investiu 16 bilhões de euros (17,5 bilhões de dólares) em programas de pesquisa e levantamento de dados. Embora as previsões possam ajudar os agricultores a escolher variedades de culturas resistentes à seca ou os engenheiros a planejar uma melhor irrigação, elas não atenuam o sofrimento dos produtores, quando ocorrem as perdas provocadas pela mudança climática. Temperaturas recordes no verão – que chegaram a passar dos 40 graus Celsius – dizimaram as colheitas na França e em outros países da Europa ocidental, no ano passado. As perdas foram estimadas em US$270 bilhões.

Os rios europeus experimentaram um sexto ano consecutivo de fluxo abaixo da média, em 2022, levando ao ano mais seco já registrado, de acordo com o Copernicus. Baixos níveis de água impedem a passagem de carga nas vias fluviais, um tipo de transporte que contribui com 80 bilhões de euros para a economia da União Europeia. Os leitos dos rios secos forçam as usinas hidrelétricas e nucleares a reduzir a geração de energia, o que leva os preços a níveis recordes de alta.

Cai a umidade do solo  

Calor e Seca na Europa: Incêndios florestais devem se multiplicar na Europa

Incêndios florestais devem se multiplicar na Europa – Foto: Matt Howard, na Unsplash

Os sinais são preocupantes, dizem os pesquisadores europeus. Um ambiente mais quente e seco está reduzindo drasticamente a umidade do solo, com impacto severo na produção agrícola, que está perdendo grandes extensões de terra arável, de acordo com um estudo que será apresentado na próxima semana à European Geosciences Union. O total de umidade do solo, no ano passado, foi o segundo menor em meio século de acordo com dados do Copernicus.

Os dados indicam que a escassez de água pode se tornar o novo normal, o que leva os cientistas a redobrar o foco nesse recurso. O problema não é apenas menos chuva – a queda foi de 10% no ano passado – mas também a perda da cobertura de neve nos Alpes e o rápido encolhimento das geleiras. Em conjunto, a diminuição do fluxo de água para os lagos e mares da Europa aumenta os riscos ambientais ao elevar a temperatura da água, prejudicar os ecossistemas e reduzir o volume disponível para a agricultura.

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