PERFIL

Empresário defende privatização e mudanças no mercado de ações

Para ele, o único setor onde o Estado deve ter presença total é na segurança

Por: Carlos Taquari
Da redação | 24 de outubro de 2022 - 21:57

Um dos fundadores da Totvs, uma das maiores no setor de sistemas de gestão empresarial no país, hoje ele dirige como CEO uma outra empresa do setor, a ERPFLEX Softwares. Além de empresário, também é um investidor no mercado de ações e, nesta condição, é um dos poucos a defender alterações na distribuição de dividendos resultantes da compra e venda de papéis. Esse não é o único ponto em que ele não teme adotar posições corajosas: defende a privatização em todos os setores da economia. Não bastasse tudo isso, acredita que o país deveria ter políticas de controle da natalidade. A seguir, uma entrevista com Ernesto Haberkorn, empreendedor e especialista em programação:

Mercado de ações

Haberkorn: Estado deve ficar fora das empresas (Foto: Arquivo Pessoal)

O senhor é um defensor da privatização total. Acredita que o Estado não deve estar presente em setores como bancos, energia, combustíveis e outros? 

E.H. –  O único setor em que o Estado deve estar presente é na segurança. Tanto Civil como Militar. Nos demais, o Estado pode dar as diretrizes, mas sempre entregá-los à iniciativa privada. Por exemplo na Educação: as escolas particulares deveriam ter uma ala, ou mesmo colocar nas classes de alunos pagantes, (como já acontece hoje em algumas instituições de ensino), aqueles selecionados para cursar gratuitamente. Não existiriam escolas públicas. O Estado paga aos particulares. Isso também tem funcionado muito bem em alguns hospitais, como o Sírio-Libanês, a Beneficência e outros.

O senhor também defende mudanças em relação aos dividendos no mercado de compra e venda de ações. Acredita que o mercado aceitaria uma medida como essa?

E.H. – Alguns investidores ganham mensalmente milhões só em dividendos. Ficando em casa! Também negocio ações. Acredito que tem algo errado nesse assunto. Receber o lucro proveniente da empresa onde você tem ações é justo, olhando do lado de quem defende o capitalismo, como eu. Só acho que o valor deveria ser infinitamente menor. Parte da distribuição dos lucros deveria ir para os funcionários. Com isso não precisaria tributar os dividendos ou o JCP (juros sobre capital próprio ou, um tipo de remuneração que uma empresa distribui aos acionistas ou sócios) ou mesmo a compra e venda de ações. O lucro já é bem tributado.

Falando em impostos, qual seria a reforma tributária ideal, a seu ver? Algum exemplo lá de fora? 

E.H. – Primeiro simplificar. Unificar PIS e COFINS. Também IR e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Em muitos países a tributação é feita na última operação, na venda ao consumidor final. E lá, se o comerciante não tributar, oferecendo uma venda sem nota, o próprio cliente vai denunciá-lo. Mesmo que lhe tenha sido oferecido um bom desconto. Com isso acabariam as Retenções e Créditos, e também a Substituição Tributária, duas ações dificílimas de serem controladas pelo Governo e pelas próprias empresas. IPI, ICMS e ISS também poderiam ser juntados num IVA bem elaborado. O Estado precisa cobrar impostos para nutrir as empresas que fazem serviços públicos. E esse gasto deve ser super controlado o que, sem dúvida, não é tarefa fácil.

Como o senhor vê a questão do funcionalismo público no país, em relação a benefícios e aposentadorias, por exemplo?

E.H. – Primeiramente, a idade de aposentadoria dos funcionários públicos deveria progredir de acordo com o aumento da qualidade de vida da população. Aposentar aos 50 anos é desconhecer o ciclo de vida que existe hoje em dia. Com essa medida, o número de funcionários públicos cairia vertiginosamente, reduzindo as despesas do governo.

O que, a seu ver, está errado com a Educação do país, o que está faltando?

E.H. – O ensino, desde a tenra idade deveria ser sobre assuntos atuais. Sobre o mundo de hoje, sobre tecnologias modernas, já nos primeiros anos. Um dos temas que os estudantes deveriam ter no currículo seria o “jornal do dia”. E discutir em sala de aula. As disciplinas deveriam ser exatamente aquelas que temos hoje no ensino superior: medicina, engenharia, direito, educação física, administração, economia, veterinária, filosofia, artes, entre outras.

Outro ponto polêmico: planejamento familiar. Atualmente, é quase proibido tocar nesse assunto, o senhor é um dos defensores dessa ideia?

E.H. – O planejamento familiar, ou seja, com a vasectomia e os métodos contraceptivos nas mulheres deveria ser obrigatório.  Primeiro, entre os moradores de rua. Depois, também nas famílias com poucos recursos financeiros ou que já teriam, por exemplo, 2 filhos. E, para outros que quisessem adotar.

Pode resumir como surgiu a ideia de criar a Totvs? E como foi a transição após a venda da Microsiga?

E.H. – A TOTVS nasceu de uma evolução normal. A SIGA que deu origem à ela, nasceu na verdade, de uma demissão. Eu trabalhava na Siemens, quando ela resolveu desativar toda a divisão de computadores que havia sido criada em 1970. Dizem que a IBM alertou: ou vocês saem da área de computadores ou nós entramos na área de telefones. Ela saiu. E hoje é tudo uma coisa só. Eu tinha desenvolvido um sistema (SIGA-Sistema Integrado de Gerência Automática) feito para mostrar aos futuros clientes o que um computador poderia fazer, e foi ele que deu origem à SIGA, que depois, com a chegada dos microcomputadores e do Laércio Cosentino, virou Microsiga e com a fusão com a Logocenter, em 2005, virou a TOTVS. Depois vieram a RM e a Datasul. E muitas outras. Laércio Cosentino é o grande mentor destas fusões e do crescimento da TOTVS. Eu só programava.

O senhor, se quisesse, poderia viver só para o lazer. No entanto, continua trabalhando, dando cursos de gestão e sempre envolvido com inúmeras atividades. O que o move, o que o impede de parar? 

E.H. – Se eu morrer à tarde, quero ter trabalhado de manhã! O trabalho é a realização do ser humano. É o seu legado. É ter o que fazer. Principalmente quando não se tem o que fazer, o que é extremamente monótono e chato mesmo! Sempre gostei de programar. É uma atividade que exige raciocínio e perseverança. E quando você vê na tela do computador o resultado de horas de trabalho, sente o que podemos chamar de felicidade! E toda profissão pode ser equiparada à programação. Precisamos enaltecer o trabalho, na Europa você vê pessoas idosas trabalhando em todos os setores, principalmente aqueles  de atendimento público. E não é por obrigação. É para viver a vida com dignidade. E prazer!

 Quais esportes pratica hoje?

E.H. – Hoje, aos 79 anos, faço musculação e natação. São dois esportes que não maltratam o corpo e dificilmente causam lesões. E podem ser realizados de forma independente. Hoje temos uma medicina fantástica. É preciso cuidar do corpo, desde a juventude. Enfim, seguir os 10 Princípios do NETAS, que podem ser vistos no site: ernestohaberkorn.com.br

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