SAÚDE

Efeitos colaterais da maconha explodem entre idosos nos EUA

Pouca informação e baixa percepção do risco são algumas das razões para o crescimento

Por: Marcelo Bonfá
Da redação | 12 de janeiro de 2023 - 21:55

Muita gente acha que a cannabis é inofensiva. Não é bem assim. Os idosos da Califórnia, nos EUA, que usam a substância psicoativa estão enfrentando mais problemas cardiovasculares, pulmonares, psicose, delírio, paranoia e dificuldade na interação medicamentosa com remédios controlados. Eles ainda estão tendo efeitos adversos que podem levar a redução do tempo de reação e atenção do usuário provocando possíveis acidentes com quedas.

O número de pessoas com mais de 65 anos de idade que procuram o serviço de emergência explodiu e chegou a quase 2000%, entre 2005 e 2019. Esses dados estão em nova pesquisa da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, San Diego, publicado na revista científica Journal of The American Geriatrics Society.

Os estudiosos revelaram que o uso da maconha aumentou muito nos últimos 40 anos entre idosos desde que a cannabis medicinal e recreativa passou a ser legalizada em diversos Estados americanos. Na Califórnia, por exemplo, o uso para fins médicos foi liberado em 1996 e, para recreativos, em 2016, 20 anos depois.

Leia também:
■ Ruídos das cidades provocam alterações no canto dos pássaros
■ Sai La Niña e entra El Niño. Tendência é a temperatura subir em todo o mundo

Os pesquisadores perceberam um aumento de 366 ocorrências do tipo em 2005 (20,7 por 100 mil habitantes na faixa etária), para 12.167 em 2019 (395 casos a cada 100 mil idosos). “Muitos pacientes acreditam que não terão efeitos colaterais adversos da cannabis porque muitas vezes não a veem (a maconha) tão perigosa quanto veriam um medicamento prescrito. Eu vejo muitos adultos mais velhos que são excessivamente confiantes, dizendo que sabem como lidar com isso. Mas à medida que envelhecem, seus corpos são mais sensíveis e as concentrações deveriam ser menores em relação ao período mais jovem”, comenta o geriatra e autor do estudo Benjamin Han, da Escola de Medicina da UC San Diego. E completou: “embora a cannabis possa ser útil para alguns sintomas crônicos, é importante pesar esse benefício potencial com o risco, incluindo acabar em um serviço de emergência de um hospital”.

Outro dado interessante da pesquisa é que “a disponibilidade (legal) de cannabis recreativa não parece estar correlacionada com uma taxa mais alta de atendimentos do pronto-socorro relacionados à cannabis entre adultos mais velhos”. Apesar do aumento da ida à emergência pelos idosos entre 2013 e 2017, o número estabilizou depois disso. Vários estudos comprovaram uma melhora nas condições de saúde a partir do uso de cannabis, principalmente no tratamento de doenças crônicas. Esse é um dos principais motivos para o uso entre os mais velhos.

Os médicos veem uma luz no fim do túnel para a melhora da saúde dos idosos sem a maconha ou com a redução do uso dela. Para eles, o principal aliado é a informação. Avisar dos potenciais problemas que essa substância psicoativa pode causar nesta faixa etária é fundamental. “Sabemos, pelo trabalho com álcool, que os adultos mais velhos têm maior probabilidade de fazer uma mudança no uso de substâncias se perceberem que isso está ligado a um sintoma ou resultado médico indesejável. Portanto, vincular o uso de cannabis de maneira semelhante pode ajudar na mudança comportamental”, sugere Alison Moore, também autora do estudo e chefe da Divisão de Geriatria, Gerontologia e Cuidados Paliativos do Departamento do Medicina da Escola de Medicina da UC San Diego.

+ DESTAQUES