Pouca informação e baixa percepção do risco são algumas das razões para o crescimento
Muita gente acha que a cannabis é inofensiva. Não é bem assim. Os idosos da Califórnia, nos EUA, que usam a substância psicoativa estão enfrentando mais problemas cardiovasculares, pulmonares, psicose, delírio, paranoia e dificuldade na interação medicamentosa com remédios controlados. Eles ainda estão tendo efeitos adversos que podem levar a redução do tempo de reação e atenção do usuário provocando possíveis acidentes com quedas.
O número de pessoas com mais de 65 anos de idade que procuram o serviço de emergência explodiu e chegou a quase 2000%, entre 2005 e 2019. Esses dados estão em nova pesquisa da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, San Diego, publicado na revista científica Journal of The American Geriatrics Society.
Os estudiosos revelaram que o uso da maconha aumentou muito nos últimos 40 anos entre idosos desde que a cannabis medicinal e recreativa passou a ser legalizada em diversos Estados americanos. Na Califórnia, por exemplo, o uso para fins médicos foi liberado em 1996 e, para recreativos, em 2016, 20 anos depois.
Os pesquisadores perceberam um aumento de 366 ocorrências do tipo em 2005 (20,7 por 100 mil habitantes na faixa etária), para 12.167 em 2019 (395 casos a cada 100 mil idosos). “Muitos pacientes acreditam que não terão efeitos colaterais adversos da cannabis porque muitas vezes não a veem (a maconha) tão perigosa quanto veriam um medicamento prescrito. Eu vejo muitos adultos mais velhos que são excessivamente confiantes, dizendo que sabem como lidar com isso. Mas à medida que envelhecem, seus corpos são mais sensíveis e as concentrações deveriam ser menores em relação ao período mais jovem”, comenta o geriatra e autor do estudo Benjamin Han, da Escola de Medicina da UC San Diego. E completou: “embora a cannabis possa ser útil para alguns sintomas crônicos, é importante pesar esse benefício potencial com o risco, incluindo acabar em um serviço de emergência de um hospital”.
Outro dado interessante da pesquisa é que “a disponibilidade (legal) de cannabis recreativa não parece estar correlacionada com uma taxa mais alta de atendimentos do pronto-socorro relacionados à cannabis entre adultos mais velhos”. Apesar do aumento da ida à emergência pelos idosos entre 2013 e 2017, o número estabilizou depois disso. Vários estudos comprovaram uma melhora nas condições de saúde a partir do uso de cannabis, principalmente no tratamento de doenças crônicas. Esse é um dos principais motivos para o uso entre os mais velhos.
Os médicos veem uma luz no fim do túnel para a melhora da saúde dos idosos sem a maconha ou com a redução do uso dela. Para eles, o principal aliado é a informação. Avisar dos potenciais problemas que essa substância psicoativa pode causar nesta faixa etária é fundamental. “Sabemos, pelo trabalho com álcool, que os adultos mais velhos têm maior probabilidade de fazer uma mudança no uso de substâncias se perceberem que isso está ligado a um sintoma ou resultado médico indesejável. Portanto, vincular o uso de cannabis de maneira semelhante pode ajudar na mudança comportamental”, sugere Alison Moore, também autora do estudo e chefe da Divisão de Geriatria, Gerontologia e Cuidados Paliativos do Departamento do Medicina da Escola de Medicina da UC San Diego.