SAÚDE

Cientistas descobrem droga que pode frear o envelhecimento

Remédio anti-inflamatório, usado para combater um tipo de artrite, renova o sangue e pode prolongar a vida

Por: Marcelo Bonfá
Da redação | 8 de fevereiro de 2023 - 21:55

Já faz algum tempo que os cientistas estudam os efeitos da transfusão de sangue de jovens para pessoas mais velhas, com objetivo de retardar o envelhecimento. Agora, pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, descobriram que podem fazer isso sem utilizar o sangue de outro indivíduo. O segredo, descoberto por acaso, está num remédio anti-inflamatório, utilizado no tratamento de casos de artrite reumatoide. O medicamento pode revitalizar o sistema que produz sangue, um processo que pode aumentar a expectativa de vida em décadas.

“Um sistema sanguíneo envelhecido, por ser um vetor de muitas proteínas, citocínas e células, tem muitas consequências ruins para o organismo”, diz a professora Emmanuelle Passegué, diretora da Columbia Stem Cell Initiative, em comunicado da universidade . “Agora, um homem de 70 anos turbinado com um sistema sanguíneo de 40 anos pode ter uma vida útil mais longa”.

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Como a droga rejuvenesce o sangue?

Emmanuele Passegué e o pós-graduando Carl Mitchell descobriram que o anti-inflamatório “Anakinra”, aprovado para o tratamento de casos de artrite reumatoide, reverte alguns dos efeitos do envelhecimento no sistema hematopoiético. “Os primeiros resultados são promissores para manter a produção de sangue saudável em idosos”, diz Mitchell. O sistema hematopoiético é responsável pela hematopoiese, ou seja, pela produção das células sanguíneas e é composto basicamente pela medula óssea e órgãos linfoides.

A equipe encontrou essa droga depois de examinar as células-tronco responsáveis por criar todo o sangue no corpo de uma pessoa. Eles também analisaram os nichos onde essas células especiais residem na medula óssea – onde são produzidos os componentes do sangue.

À medida que a pessoa envelhece, as células-tronco hematopoiéticas também começam a mudar. Eles passam a produzir cada vez menos glóbulos vermelhos e células imunológicas. Isso pode levar a condições sanguíneas como anemia, bem como um sistema imunológico enfraquecido. Essas células sanguíneas envelhecidas também têm mais problemas para manter sua estrutura genética, o que pode resultar no aparecimento de câncer no sangue.

Emmanuelle Pessegué: avanços nas pesquisas para renovação do sangue. (Foto: Arquivo Pessoal)

Tentativas anteriores de rejuvenescer o sistema sanguíneo, por meio de exercícios, dieta e até mesmo as transfusões de sangue de pessoas novas, falharam em experimentos com camundongos. Foi quando a equipe de Passegué começou a olhar para a própria medula óssea, aplicou o anti-inflamatório em camundongos idosos e percebeu que a droga devolveu o sangue envelhecido a um estado mais jovem e saudável.   A equipe de Nova York agora estuda se os humanos podem se beneficiar com esse mesmo tratamento.

“Tratar pacientes idosos com anti-inflamatórios que bloqueiam a função da IL-1B deve ajudar a manter uma produção de sangue mais saudável”, diz Passegué, que espera que este estudo leve a ensaios clínicos em breve.

“Sabemos que o tecido ósseo começa a se degradar quando as pessoas estão na faixa dos 50 anos. O que acontece na meia-idade? Passegué continua. “Somente um conhecimento molecular mais profundo vai nos ajudar a entender isso melhor.”

O antiflamatório Kineret, com o principio ativo Anakinra”, é um remédio de alto custo nos EUA, não é vendido em farmácia comum e os planos de saúde não cobrem sua utilização. Por enquanto, o medicamento é utilizado apenas para o tratamento de artrite reumatoide, não sendo recomendado para fins de renovação do sangue.

As descobertas de Passegué foram publicadas na revista Nature Cell Biology.
A foto da capa da reportagem é de Karolina Grabowska / Pexels

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