Fatores genéticos, biológicos e ambientais explicam a menor longevidade dos homens em relação às mulheres
Em todos os países do mundo as mulheres vivem mais do que os homens. Dados do Banco Mundial mostram que as mulheres vivem 5,2 anos a mais do que os homens em países de alta renda e 3,8 anos a mais em países de baixa renda.
Em muitas espécies de mamíferos, a maior expectativa de vida das fêmeas é um fato amplamente reconhecido pela ciência. E entre os humanos também. Mas como a ciência explica essa longevidade diferenciada entre homens e mulheres?
Pesquisadores da Universidade de Lion comprovaram diferenças sexuais na expectativa de vida adulta e taxas de mortalidade por envelhecimento em mamíferos selvagens.
Outro estudo, publicado recentemente pela Revista Science, analisou mais de 3.200 camundongos e identificou várias partes do genoma que influenciam a longevidade. Os pesquisadores descobriram que esses efeitos genéticos variam de acordo com o sexo, mas também mostrou que a vida útil depende de muitos traços de interação.
Uma das explicações para a maior longevidade das mulheres talvez esteja na própria constituição biológica da espécie humana.
Fatores hormonais podem estar por trás dessa vantagem feminina. É que graças aos estrogênios, as mulheres conseguem reduzir naturalmente os níveis de colesterol ruim (LDL) e aumentar o colesterol bom (HDL).
No caso dos homens acontece o contrário. Além de não produzir o mesmo benefício, a testosterona ainda aumenta o risco de hipertensão e doenças cardiovasculares entre os homens.
Dessa forma, os andrógenos, que são os hormônios responsáveis pelo desenvolvimento das características masculinas, podem tornar homens de musculatura definida e aparentemente saudáveis mais fracos e mais suscetíveis a infecções e doenças.
Outro fator chama a atenção nas descobertas recentes da ciência. Experimentos feitos com animais sugerem que ter dois cromossomos XX, como é o caso das mulheres, é mais vantajoso do ponto de vista biológico do que ter dois cromossomos XY.
A explicação é simples. Quando há uma falha comprometedora em um dos dois cromossomos X, essa falha é corrigida automaticamente pelo próprio sistema que recobre a região afetada com material idêntico da outra região que permanece intacta.
Já com os homens, o cromossomo Y, que produz a testosterona e muitos dos traços diferenciais do sexo masculino, deixa o sistema ameaçado e vulnerável em caso de um defeito genético. Se o cromossomo Y apresentar algum problema, não há outro similar para cobri-lo.
A maior longevidade das mulheres também pode estar associada ao tamanho dos telômeros, que são as extremidades dos cromossomos responsáveis pela proteção do DNA.
As mulheres têm telômeros mais longos do que os homens até o período da menopausa, o que pode ser determinado pelo fato de que o gene da telomerase é ativado pelos estrogênios, os hormônios femininos.
Toda vez que as células se dividem para fazer outras, os telômeros ficam um pouco mais curtos e quando finalmente ficam tão pequenos que já não são mais capazes de proteger o DNA, as células param de se reproduzir, o que gera doenças e o envelhecimento precoce.
A derradeira explicação tem a ver com uma complexa interação entre biologia e meio ambiente.
Considerando as diferenças sociais, a longevidade de homens e mulheres é fatalmente comprometida pela pobreza, que está associada a um pior estado de saúde e menor expectativa de vida. Mesmo assim, as mulheres em todo o mundo, que têm menos controle sobre suas vidas e apresentam piores condições socioeconômicas, ainda assim, vivem mais do que os homens.