Milhares de chineses procuram imóveis para morar e empresas para investir na Europa, EUA, Canadá e Ásia
Bloomberg
O êxodo já vinha sendo observado nos últimos anos, com milhares de chineses comprando imóveis e empresas no exterior. Mas se acentuou nos últimos seis meses quando mais de 10.000 chineses deixaram o país, levando parte de suas fortunas, de acordo com o New World Wealth, centro de dados de inteligência da consultoria de investimentos Henley & Partners. Em alguns casos, empreendedores bem-sucedidos também levam o know-how adquirido em setores importantes, como a tecnologia e indústria.
Se antes da pandemia, a China já enfrentava uma fuga de capital em torno de US$150 bilhões/ano, agora esse número deve aumentar de forma acentuada. A previsão é de Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da empresa de gestão de fortunas Natixis, para a Ásia e Pacífico. “A China terá de lidar com a saída de grandes volumes de dinheiro, o que vai causar impacto na produtividade e no crescimento”, diz Alicia.
A China tem o segundo maior número de milionários do mundo, depois dos Estados Unidos. São mais de 32.000 pessoas com fortunas acima de US$50 milhões, de acordo com o Crédit Suisse.
O número de chineses em busca de imóveis para morar ou de empresas para investir, no Canadá, vem se multiplicando nos últimos meses, segundo Feruza Djamalova, representante do escritório de advocacia especializado em imigração Sobirovs. “Nossos clientes não apenas querem fechar negócio, mas querem o quanto antes possível”, afirma Djamalova.
Juwai Iqi, empresa do setor imobiliário que opera no mercado internacional voltado para clientes da Ásia, revela que a busca por imóveis, por parte de clientes chineses, aumentou em 55% nos últimos meses.
Denny Ko, advogado especializado em imigração, com escritório em Hong Kong, observa uma mudança no perfil dos candidatos a buscar residência e investimentos no Exterior. Além dos milionários, esse contingente agora também inclui a classe média alta, empreendedores e executivos de alto escalão.
Para se ter uma ideia, a busca pelo termo “imigração”, no WeChat, a maior plataforma de comunicação na China, bateu um recorde de mais de 100 milhões de acessos, em 26 de Dezembro, quando o governo suspendeu o lockdown imposto por conta da pandemia de Covid.
Singapura é um dos países mais procurados pelos chineses. A inundação de dinheiro levada pelos ricos da China provocou uma escalada nos preços dos imóveis, campos de golfe e até carros de luxo no país.
Nos Estados Unidos, o JP Morgan Chase reforçou seu staff especializado no atendimento de clientes chineses, especialmente na área de San Francisco, na Califórnia.
Em Zurique, Suiça, o banco Julius Baer, voltado para clientes super ricos, ampliou a equipe que fala Mandarim e conhece os hábitos dos milionários e bilionários chineses. A China tem normas muito restritas para impedira saída de capital. Pela legislação vigente, uma pessoa só pode converter no máximo o equivalente a US$50 mil em yuans. Mas, de alguma forma, as pessoas conseguem ultrapassar esse valor. De qualquer maneira, só o dinheiro levado pelos turistas para o Exterior, deve chegar perto de US$200 bilhões, nesse ano, segundo cálculos de Chen Zhiwu, professor de finanças na Universidade de Hong Kong.
Peter Luo, executivo da consultoria especializada em imigração Express Immigration, da Nova Zelândia, conta que as demandas de clientes chineses não param. “O mais curioso é que eles todos pedem urgência. Estão sempre com pressa e querem aprovação imediata para seus pedidos”, revela Luo.