Crise e guerra pressionam o setor agrícola brasileiro por novas tecnologias
Cerca de 85% do fertilizante utilizado no Brasil é importado e a maior parte vem de países como China, Ucrânia e Rússia – países que, além da pandemia, estão enfrentando problemas com alta no preço da energia, guerra e outras questões políticas.
Isso tem provocado uma elevação no preço dos fertilizantes sintéticos (compostos químicos que alimentam a planta e não o solo) e tem feito com que os produtores brasileiros olhem para outras tecnologias.
A área que tem chamado bastante atenção é a dos bioinsumos – conceito adotado oficialmente no Brasil com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), em Maio de 2020.
Em outras palavras, para o país produzir alimento utilizando fertilizante como tecnologia para reposição de nutrientes ficou muito mais caro. No entanto, essa situação tem impulsionado a adoção e desenvolvimento de outras tecnologias, como é o caso dos bioinsumos para nutrição de plantas.
Os bioinsumos são produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana destinados ao uso na produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agropecuários.
Esses produtos proporcionam melhor crescimento, desenvolvimento e mecanismos de respostas no metabolismo dos animais, plantas e microrganismos. Entre outros, se incluem os biofertilizantes, produtos para nutrição vegetal e animal, defensivos biológicos, produtos fitoterápicos, produtos veterinários e produtos pós-colheita.
Dentro desse guarda-chuva, existem oportunidades para desenvolvimento de tecnologias que podem complementar o uso de fertilizantes sintéticos – os biofertilizantes e bioestimulantes – levando à oferta de produtos alternativos aos sintéticos para se manter a produção agrícola.
Os bioestimulantes ( substâncias capazes de induzir uma melhor atividade metabólica nas plantas, promovendo o seu melhor desenvolvimento e também protegendo-as contra pragas e doenças) são responsáveis por potencializar os processos fisiológicos das plantas como a absorção de água e nutrientes e os biofertilizantes repõem nutrientes do solo. Essas tecnologias já demonstram ótimos resultados.
Artigo publicado por Rocío Olmo, na revista Frontiers in Microbiology mostra que o Brasil já é o país do mundo com mais utilização de bioinsumos para prover nitrogênio na cultura da soja – 80% da área plantada conta com essa tecnologia para reposição desse nutriente no solo.
No entanto, para que tecnologias como essa sejam desenvolvidas para repor outros nutrientes, como fósforo e o potássio – os mais importantes depois do nitrogênio – serão necessários investimentos na pesquisa de novos bioinsumos, para soja e outras culturas.
Nesse sentido, com a implementação do PNB, o governo brasileiro revela intenção de apoiar o desenvolvimento de bioinsumos no país. Além disso, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), podemos identificar centenas de pesquisadores trabalhando em cerca de 90 projetos relacionados ao tema.