SAÚDE

“Bebês da pandemia” falam menos, mas caminham mais

Bebês tiveram atraso na comunicação oral, mas começaram a engatinhar e andar mais rápido

Por: Júlia Castello
Da redação | 28 de outubro de 2022 - 14:00
Annabelle Timsit, do Washington Post
com Julia Castello, de São Paulo

No início da pandemia, quando grande parte do mundo estava em confinamento, muitos pais e cuidadores expressaram receios de como este período de isolamento prolongado poderia afetar seus filhos. Um novo estudo da Royal College of Surgeons, na Irlanda, mostrou que sim, os bebês nascidos neste período apresentaram resultados de desenvolvimento diferentes em comparação com outras crianças. Entretanto, nem todos os efeitos da pandemia foram negativos para o desenvolvimento delas.

A neurologista pediátrica Susan Byrne, uma das principais autoras da pesquisa, afirmou que por terem menos ou nenhum contato com outras pessoas além de seus próprios familiares, os pequenos foram menos estimulados a acenar para dar “oi” ou “tchau”.

Com passeios e viagens limitadas para fora de casa, os bebês apontaram para menos objetos e não falavam ou balbuciavam nenhuma palavra antes de 1 ano de idade, por terem menos contato com uma linguagem e vocabulário diferente.

Número de bebês nascidos na pandemia que engatinharam antes do 1 ano é maior do que bebês nascidos até 2011. (Foto: FreePik)

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Dessa forma, de acordo com a pesquisa, estes “bebês da pandemia” têm uma tendência maior de serem mais lentos para desenvolver a comunicação. Por outro lado, por ficarem mais tempo em casa, e andarem menos de carrinho, foram mais propensos a começar a engatinhar, tendo um desenvolvimento mais rápido na locomoção. “O primeiro ano de vida (destes bebês) foi muito diferente dos bebês pré-pandêmicos”, afirma Byrne.

Detalhes da pesquisa

A pesquisa do Royal College of Surgeons, que foi publicada neste mês no British Medical Journal, pediu aos pais de 309 bebês nascidos entre março e maio de 2020 que relatassem a capacidade de seus filhos de atingir 10 marcos de desenvolvimento com 1 ano de idade, como a capacidade de engatinhar, empilhar tijolos e apontar para objetos.

Os pesquisadores compararam as respostas desses pais a dados coletados em mais de 1.600 bebês como parte de um estudo em larga escala que acompanhou bebês nascidos na Irlanda entre 2008 e 2011 e avaliou seu desenvolvimento ao longo do tempo.

Houve algumas diferenças pequenas, mas que os pesquisadores consideram muito significativas entre os dois grupos. Menos bebês no estudo poderiam acenar “adeus”, 87,7% em comparação com 94,4% dos bebês pré-pandemia.

Já 83,8%, em comparação com 92,8%, apontavam para objetos ao seu redor e 76,6% contra 89,3% falavam pelo menos uma “palavra definida”. No entanto, eles eram mais propensos do que os pequenos nascidos antes de 2011 a engatinhar e dar os primeiros passos com 1 ano de idade. Nas outras categorias, os pesquisadores não encontraram diferenças significativas.

Curiosidade nata dos bebês

Taxa de natalidade caiu em todo o mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (Foto: Pexels)

Vários estudos já mostraram como os primeiros anos de vida das crianças são essenciais para seu desenvolvimento. É neste momento, que seus cérebros absorvem todas as interações e experiências, positivas e negativas, para construir as conexões neurais que servirão para o resto de suas vidas.

Para os pesquisadores e especialistas em neurologia, apesar das descobertas recentes, como a pesquisa de Byrne, alguns efeitos só serão identificados daqui a alguns anos.

Independentemente de quais serão todos estes efeitos,  pesquisadores defendem que com o apoio certo os pequenos irão se recuperar do que não puderam desenvolver durante este período. “Os bebês são resilientes e curiosos por natureza”, conclui Byrne.

Com o intuito de fornecer recursos às famílias dos bebês confinados, alguns especialistas já tem solicitado aos governos de seus países para que criem projetos específicos que não apenas gerem recursos, mas acompanhem estas crianças para garantir que não haja atrasos ao longo prazo.

Diminuição da taxa de natalidade

Estima-se que devido às inseguranças vividas pelo período da pandemia de covid-19, a taxa de natalidade caiu drasticamente em grande parte do mundo.

Países como China e França reportaram o menor número de nascimentos em suas histórias recentes. A Itália, por exemplo, teve menos nascimentos em 2021 do que em qualquer momento desde a criação do país, em 1861.

No Brasil, 9% a menos em nascimentos

Já o Brasil teve 300 mil bebês a menos do que o esperado pelo IBGE em 2020. A estimativa do Instituto é que só em 2020, primeiro ano de intensificação da medidas sanitárias, a população brasileira ganharia 2,9 milhões de recém-nascidos. Entretanto, dados do Portal da Transparência do Registro Civil mostraram um pouco mais de 2,6 milhões, 9% abaixo do esperado.

Entretanto, um estudo do jornal Financial Times mostrou que o número de nascimentos nos países ricos em geral já se recuperou para o nível que tinha antes da pandemia do coronavírus. De acordo com a Organização das Nações Unidas “o declínio em curto prazo do número de nascimentos, em muitos países, é compatível com outras crises históricas, mas, no caso da Covid-19, a queda durou muito pouco tempo”.

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