As baleias migram das águas frias da Antártica para a costa brasileira durante o seu período de reprodução
O número de baleias no litoral brasileiro, especificamente as Jubartes, têm se tornado um indicativo importante na preservação destes animais no mundo. Em 2022, entre julho a novembro, período de sua migração, 25 mil baleias Jubarte passaram pelas costas brasileiras. Este é o maior número já registrado desde que a contagem começou a ser realizada, há 21 anos. Em 2019, o levantamento, até então mais recente, mostrou a presença de cerca de 16 mil Jubartes.
De acordo com a bióloga e coordenadora dos censos aéreos do Projeto Baleia Jubarte, Márcia Engel, o recorde é motivo de muita comemoração já que o número “vem na contramão da extinção em massa de espécies que vem ocorrendo no planeta, inclusive no mar brasileiro”. A organização estima que este novo número já esteja próximo do que era o tamanho original da população de Jubartes brasileiras antes do advento da caça comercial.
Segundo Márcia, a proibição da caça comercial, de 1987, no país e a determinação de medidas que minimizem o contato humano são as principais causas para a recuperação da população desta espécie de baleias. Uma das medidas, é “a determinação de rotas de navegação evitando as áreas de maior concentração de animais, reduzindo assim o risco de atropelamento, principalmente de filhotes. Desenhada pelo Projeto Baleia Jubarte, [a rota] é uma parceria com empresas de navegação em Abrolhos e na região de Ilhabela”, explica. Em 2014, a espécie saiu da lista dos animais da fauna brasileira ameaçados de extinção.
O Projeto Baleia Jubarte, que surgiu com o propósito de ajudar na conservação desta e de outros cetáceos e dos ambientes marinhos, faz o monitoramento da população da espécie, desde 2001, por meio de sobrevoos em toda a extensão do litoral brasileiro. “A aeronave possui janelas-bolha, que permitem a observação das baleias e golfinhos logo abaixo da aeronave. Quatro observadores e dois pilotos realizam este trabalho, que consiste em registrar os cetáceos avistados, assim como as atividades humanas no mar como a pesca, a navegação comercial e as plataformas de petróleo”, explica Márcia.
O levantamento, que é feito a cada três anos, é essencial para ajudar na criação e implementação de políticas públicas de conservação destes animais. Além disso é necessário para a criação das rotas, assegurando maior harmonia entre as atividades econômicas do país com a presença destes animais.
O Projeto busca conscientizar a sociedade da importância da preservação das baleias Jubartes, por meio de eventos culturais e divulgação de informações em suas plataformas digitais. A organização conta também com centro de visitantes, os Espaços Baleias Jubarte em que turistas ou moradores podem fazer um Turismo responsável.
Diferente de outras baleias, as Jubarte têm uma capacidade especial de se adaptar às mudanças no ambiente marinho. Elas possuem uma flexibilidade alimentar, ajudando no sucesso da longa viagem que realizam todos os anos da Antártica para o Brasil, na temporada de reprodução.
Além disso, elas possuem uma característica anatômica única que deu inclusive origem ao seu nome científico: “um par de nadadeiras peitorais extremamente longas, que alcançam um terço do comprimento total do corpo do animal e que figurativamente são chamadas de grandes asas (Mega=grande; áptera=asas)”, conta a bióloga.