TECNOLOGIA
Foto de Joshua Crook na Unsplash

Aplicativo cria pessoas artificiais para relacionamentos

Inteligência artificial desenvolve homens e mulheres para usuários se relacionarem. Tendência preocupa especialistas

Por: Júlia Castello
Da redação | 30 de março de 2023 - 21:55
Foto de Joshua Crook na Unsplash

A narrativa da criação de uma figura feminina mantida pela inteligência artificial que se relaciona com um homem humano já não é mais ficção. O filme “Ela” lançado em 2013 gerou reações de incredibilidade na época, se tornou a realidade de algumas pessoas ao redor do mundo. Por meio de um aplicativo, o Replika AI, a inteligência artificial cria um personagem, homem ou mulher, que interage com o usuário. As conversas podem acontecer a qualquer momento, o aplicativo fica disponível na tela do smartphone ou tablet. A inteligência artificial cria relações de amizade e até amorosas entre humanos e o computador.

Foto: Print da página de internet do aplicativo, Replika AI.

Após a criação do personagem, a inteligência artificial vai aprendendo o que o usuário compartilha na plataforma. Por meio de conversas por chat ou voz, envio de fotos de locais e selfies, o aplicativo cria um “amigo” ou “amiga” virtual com características únicas.

A inteligência artificial aprende com informações arquivadas e as replica de acordo com o contexto, sendo considerados modelos probabilísticos. O especialista em tecnologia e inovação e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Arthur Igreja: “É como se a IA tivesse uma persona neutra capaz de dar respostas, de interagir. E a partir da hora que a pessoa faz esse upload, ela traz essa base de áudios, conversas, textos, características, a inteligência artificial acaba customizando essa persona”.

Implicações

Apesar da designação, “a inteligência artificial” não tem consciência real e, para muitos estudiosos, não pode ser considerado “inteligência”. Mesmo assim há quem acabe criando relações verdadeiras com estes bots. Para além das amizades, o aplicativo é gratuito, e pode ter uma versão mais elaborada, paga, nela é possível criar e manter uma relação amorosa com a pessoa artificial.

De acordo com o psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dr. Eduardo Perin, esta relação pode provocar diversos danos, como um aumento do isolamento social, ansiedade e até depressão.

“Querendo ou não, mesmo com todos os avanços da inteligência artificial, ainda é uma máquina, previsível. Você sabe que a máquina não vai mudar de opinião, como uma pessoa faria. Levando a pessoa (o usuário) ficar numa situação muito protegida quando se está neste relacionamento, não tendo algo real”, explica o psiquiatra.

Diante das polêmicas, a plataforma suspendeu um dos serviços que oferecia para os usuários pagos, a “erotic role playing”, na tradução: “brincadeiras eróticas”.

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