Empresas de produtos alimentícios estão na corrida para encontrar substituto para o plástico
Bloomberg
Dados do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas indicam que, atualmente, são produzidas 400 milhões de toneladas de lixo plástico, a cada ano. Metade disso é constituída por embalagens usadas apenas uma vez, como pacotes de batatas chips, que vão parar nos rios e oceanos. Lá, boa parte desse material se transforma em microplástico, que é consumido pelos peixes e acaba se transferindo para cadeia alimentar, chegando até aos humanos.
Com o objetivo de se distanciar desse tipo de problema, as empresas do setor alimentício, como as fabricantes de salgadinhos e chips, estão em busca de alternativas para empacotar seus produtos. E tudo indica que a solução está num produto denominado Carbonato de Cálcio (CaCO3)
O mergulhador e executivo Florencio Cuétara, sócio da Cuétara Foods, com sede na Suíça, que fabrica 25 marcas de biscoitos bolachas vendidos em todo o planeta, resolveu desenvolver uma embalagem diferente, que não depende de combustíveis fósseis, cujos componentes são utilizados nas atuais. Depois de 4 anos de pesquisa em conjunto com o Dr. Russ Petrie, cirurgião ortopédico da Califórnia, eles usaram o carbonato de cálcio para criar saquinhos para salgadinhos, arroz, café e sal, além de embrulhos para flores.
Este mineral é encontrado naturalmente em pedras ou rochas e já foi usado como enchimento de embalagens antes, mas apenas em pequenas porcentagens. Cuétara e Petrie desenvolveram essa tecnologia e chamaram de “Made from Stone” (Feito de Pedra) que contém até 70% de carbonato de cálcio, sendo o resto feito de resina. Os saquinhos da empresa são flexíveis e leves, eles flutuam na água, e a tecnologia agora é usada por fabricantes em 15 países, incluindo Brasil, Índia, Canadá, Filipinas e Estados Unidos. “Fomos chamados de loucos várias vezes”, diz Cuétara.
Sean Mason e Mark Green, co-fundadores da empresa britânica de batatas fritas Two Farmers, lembram que foram precisos cinco anos para eles encontrarem um embalagem com material biodegradável, que mantivesse o conteúdo interno crocante. “Obviamente, o plástico descartável que vem em pacotes de batatas fritas está prejudicando as cidades e os mares”, disse Mason. Em 2019, a marca lançou a sua linha de batatas fritas gourmet em embalagens 100% degradáveis, feitas de celulose de eucalipto. O único problema é que ele é 10 vezes mais caro que o plástico.
Existem milhares de empresas fazendo salgadinhos, em todo o mundo, mas qualquer progresso na mudança das embalagens plásticas que poluem o meio ambiente tem que envolver os grandes e os gigantes do setor. No mundo das batatas fritas americanas, por exemplo, a Frito-Lay, uma divisão da PepsiCo, detém impressionantes 60% de participação no mercado, de acordo com a empresa de análise de dados IRI Worldwide.
Esta última empresa pesquisa embalagens alternativas desde 2009 e espera tornar todos os seus saquinhos 100% recicláveis, biodegradáveis ou reutilizáveis até 2025. Em 2021, estreou a embalagem feita de 85% de ácido poliláctico, normalmente feito de amido de milho, além de alumínio, tintas, adesivos e que pode ser reciclada industrialmente em algumas cidades dos EUA.
As companhias que ainda não estão adotando embalagens sem plástico podem ser forçadas a fazer isso no futuro, à medida que os governos começarem a intervir. No ano passado, a União Europeia propôs novas regras que exigiriam que as empresas que vendem produtos na comunidade tornem suas embalagens mais fáceis de reutilizar, reciclar e compostar. As regras também limitariam o espaço vazio desnecessário, parte de uma meta geral de reduzir o desperdício em 5% até 2030, em comparação com os níveis de 2018. Se eficaz, o E.U. poderia estabelecer um padrão a ser seguido por outras nações.
Mas os obstáculos continuam enormes, e os saquinhos, por exemplo, são apenas uma parte de um problema muito maior. A maioria dos países em desenvolvimento não possui instalações de reciclagem ou compostagem e, nas nações que possuem, esses sistemas geralmente estão quebrados ou funcionam mal. A Agência de Proteção Ambiental estima uma taxa de reciclagem de plástico nos EUA de pouco menos de 9%, enquanto o Beyond Plastics, um projeto do Bennington College, estima que seja apenas de 5% a 6%.