Mais de uma centena de bilionários fazem fila para assumir o compromisso de doação
O número de bilionários dispostos a abrir mão de parte de suas fortunas – ou do total – não para de crescer, seja por uma certa consciência social ou pela simples constatação de que, por mais que desejem, não vão conseguir gastar tanto dinheiro para viver. O fato é que a iniciativa de Bill e Melinda Gates, ao lado de Warren Buffett, de fundar há 12 anos o The Giving Pledge, clube de doadores de bilionários, gerou uma espécie de disputa entre eles para ver quem doa mais.
Mackenzie Scott, escritora, filantropa e ex-mulher de Jeff Bezos, criador da Amazon e o homem mais rico do mundo, tem uma fortuna menor em relação aos que estão no topo das listas de bilionários. Mas é a campeã nas doações: anunciou que vai doar em vida toda a sua fortuna de mais de US$ 53 bilhões (em torno de R$ 280 bilhões). Já distribuiu US$ 12 bilhões nos últimos dois anos e uma parte desembarcou nas contas de mais de uma dezena de entidades brasileiras.
Anunciar ao mundo o compromisso de doação não é atitude ocasional ou simples arroubo de vaidade. Está no centro da estratégia do TGP para influenciar outros megarricos a fazer o mesmo. E cada vez mais entidades locais têm sido beneficiadas por doações do Giving Pledge.
Entre as organizações beneficiadas, aqui no Brasil, estão o Instituto Rodrigo Mendes (de formação de educadores), Rede Nossas (de defesa de mudanças de políticas públicas), Gerando Falcões (ONG que desenvolve projetos sociais nas favelas, incluindo áreas de educação e inclusão digital, visando a redução da pobreza), Instituto Sou da Paz (de análise de dados e pesquisas sobre violência no país) e Redes da Maré (que desenvolve programas em benefício das comunidades da favela da Maré, no Rio). As doações de Mackenzie Scott a cada uma dessas entidades somam sempre alguns milhões de reais. Como no caso do Instituto Sou da Paz, com R$ 5,6 milhões.
O maior beneficiado brasileiro de Scott na captação de recursos é a associação Gerando Falcões, que recebeu recentemente mais de R$ 25 milhões. A entidade anuncia em seu site que beneficia diretamente mais de 15 mil pessoas em 4 mil favelas, em 25 estados do país. Informa ainda que tem como estratégia desenvolver ações para a melhoria da qualidade de vida em comunidades periféricas, por meio da Falcons University, das chamadas unidades aceleradas, além de oficinas voltadas para o redesenho de favelas. Mais recentemente a Fundação de Mackenzie Scott incluiu o Politize, organização voltada para a educação em favor da democracia, entre as beneficiadas, com uma doação de R$2,5 milhões.
No último levantamento divulgado, a Fundação de Mackenzie Scott já havia doado US$3,8 bilhões, para 465 organizações, em vários países do mundo.
Outro caso que veio à tona nos últimos dias é o da herdeira da Basf, a austríaca Marlene Engelhorn, de 30 anos, que anunciou que vai doar 90% de sua fortuna de 4,2 bilhões de euros, ou 22 bilhões de reais. “Gerenciar essa riqueza leva muito tempo. Esse não é o meu plano de vida. Não é que eu não queira ser rica, é que não quero ser tão rica”, explicou.
Marlene integra outra entidade internacional de doadores, a Milionários Pela Humanidade, que, além de fomentar doações, tem entre outras bandeira a defesa de que os muito ricos paguem mais impostos. Ela também criou o movimento AG Steuersrechtigkeit, que mobiliza herdeiros de fortunas a renunciar parte de suas riquezas.
Andrea Wolfenbütel, consultora associada do Idis (Instituto de Desenvolvimento do Investimento Social), entidade brasileira que orienta empresas e empresários brasileiros interessados em adotar a filantropia com parte das atividades, explica que há alguns anos tentou-se criar um Giving Pledge brasileiro.
“O Giving Pledge não organiza o fluxo e a destinação de doações. Trata-se de uma plataforma de divulgação dos compromissos dos bilionários que decidem doar pelo menos a metade da fortuna em vida. Mas aqui no Brasil muitos se manifestaram avessos justamente a essa divulgação, porque apareceriam como sócios de um clube de bilionários filantropos, e outros desejavam uma atuação mais organizacional da entidade, o que acabou impedindo a iniciativa por aqui”, explica.
Para Andrea, a propaganda promovida pelo TGP funciona como a própria alma do negócio da doação entre os bilionários. “Depois que os Gates e Buffet lançaram o movimento, mais de uma centena de bilionários internacionais fizeram fila para também assumir o compromisso de doação, o que é importante para ajudar a reduzir a miséria no mundo”, avalia. Hoje, o projeto tem 230 signatários em 28 países, entre eles, Elon Musk, dono da Tesla e Mark Zuckerberg, do Facebook.
E as notícias do clube de doadores não param. Recentemente, o fundador Bill Gates anunciou a doação de mais US$ 20 bilhões à própria fundação, que ele comanda ao lado da ex-esposa, Melinda Gates. Com mais essa entrega, explicou, poderia deixar o topo da lista de bilionários, nos próximos rankings.