“Sou Georgia, sou uma mulher, sou mãe, sou italiana e sou cristã. E ninguém vai tirar isso de mim”
Depois de um fraco desempenho nas eleições legislativas de 2018, quando obteve apenas 4% dos votos, Giorgia Meloni começou a virar o jogo no ano seguinte. Em discurso para apoiadores, em Roma, ela disparou uma frase que viralizou na internet e se tornou um lema de campanha:
“Sou Georgia, sou uma mulher, sou mãe, sou italiana e sou cristã. E ninguém vai tirar isso de mim”. As palavras cativaram inicialmente o eleitorado feminino e, em seguida, também os homens, embora seu crescimento nas pesquisas também seja atribuído a outros fatores políticos e econômicos. Junte-se esta frase ao slogan herdado do fascismo, “Deus, Pátria e Família”, tem-se uma ideia do rumo que o país deve tomar.
Após aquele comício em Roma, não demorou muito para que ela deixasse para trás os outros dois líderes da direita italiana, Matteo Salvini, da Liga, e Silvio Berlusconi, do Força Itália.
A virada na preferência do eleitorado teve outros componentes. Antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, ela havia elogiado o presidente Vladimir Putin como “um defensor dos valores cristãos”. Após o inicio do conflito, condenou a invasão e defendeu as sanções econômicas contra a Rússia. Mas foi uma declaração que ela fez ainda bem jovem, aos 19anos, quando dava os primeiros passos na política, que a distanciou de boa parte do eleitorado e até hoje lhe cria problemas. Em entrevista a um grupo de jornalistas franceses, ela declarou: “Mussolini foi um bom político. Tudo que ele fez, fez pela Itália”. Mais tarde, se arrependeu e tentou corrigir. Em várias ocasiões, afirmou que o ditador “cometeu erros”.
Criada pela mãe, no bairro de Garbatella, na periferia de Roma, depois que o pai abandonou a família quando ela tinha 2 anos, Giorgia viveu a infância e adolescência na pobreza. O subúrbio onde cresceu sempre foi um reduto da esquerda, mas ela acabou indo para o lado oposto da política.
Com Giorgia no comando, a coalizão de direita deverá ter força suficiente no parlamento para mudar a Constituição italiana. Isto, se ela conseguir superar as divergências internas na aliança. O país é conhecido tanto pelas constantes trocas de governo como pelas rupturas nas coalizões por causa de problemas internos.
Basta lembrar que há poucos dias houve uma forte discussão entre ela e seu principal aliado, Matteo Salvini. Ele tentou convencê-la a aprovar um pacote de 30 bilhões de euros (mais de 150 bilhões de reais) para ajudar famílias e empresas a arcarem com os custos de energia. Ela se recusou e, diante da insistência de Salvini, Giorgia se mostrou impaciente: “Estou surpresa que, às vezes, ele parece mais polêmico comigo do que com seus adversários”. A declaração dá uma ideia do que ela terá pela frente.
Passadas as eleições, é hora de se perguntar: ao rejeitar o rótulo de neofascista, nos discursos de campanha, ela dizia a verdade ou procurava apenas acalmar os eleitores e agora vai tentar reconduzir o país para a extrema-direita, um regime de triste memória para a Itália e para o mundo?