Sucesso de alguns tende a gerar a infelicidade de outros
Para algumas pessoas é difícil aplaudir, reconhecer o mérito, elogiar ou dar um parabéns sincero a um amigo, colega de trabalho ou de estudo. Em outras palavras, a felicidade de uma pessoa incomoda e pode tornar outras infelizes.
Quem não presenciou uma situação como essa: um amigo ou colega é promovido ou ganha uma bolsa de estudos no exterior. Ao invés de se sentir feliz com a notícia, alguém no grupo fica deprimido ou com raiva. Só que não admite isso de maneira nenhuma.
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Esse tipo de sentimento é mais comum do que se imagina. E pode causar sérios transtornos, caso não seja eliminado. Para o psicólogo Robert L. Leahy, autor de 28 livros sobre comportamento humano, esse sentimento está relacionado com a inveja, um traço identificado nos seres humanos desde a antiguidade. E que também aparece na Bíblia como um dos sete pecados capitais. Leahy aponta três tipos de inveja:
– a inveja depressiva, que consiste em se sentir diminuído diante do sucesso dos outros;
– a inveja hostil, que provoca raiva em relação a uma pessoa bem sucedida;
– e a inveja benigna, quando o indivíduo vê a conquista de outro como algo muito positivo e o admira.
De acordo com a Andrea Jotta, ciberpsicóloga da PUC-SP, a inveja é um sentimento que afeta todo mundo em algum momento da vida. “O que diferencia são nossas possibilidades de mudar aquilo que nos incomoda em nós mesmos”, afirma. Para ela, não é a felicidade do outro que provoca a infelicidade das pessoas. É a própria insatisfação interna, subjetiva de cada um, que faz manifestar a inveja. Em alguns indivíduos de forma mais explícita que em outros, e até mesmo “sem se dar conta”.
Jotta também ressalta que a internet amplia, de forma exponencial, o sentimento. Isso acontece porque a rede social, através dos algoritmos, mostra exatamente aquilo que a pessoa sente falta. “Se você está em um período triste por estar solteira, por exemplo, os algoritmos te mostrarão todo e qualquer estímulo de casais felizes ou solteiros felizes, o que vai te dar cada vez mais a sensação de que só você é solteira e infeliz”, conta ela.
Segundo o filósofo, Luiz Felipe Pondé, a tendência de se comparar com outras pessoas faz parte da essência dos seres humanos e da formação psíquica. “Claro que, em ambientes fechados como família e empresas, a felicidade de uns pode gerar ressentimento e inveja, que são formas de infelicidade”. Para ele, “nada nos enlouquece mais do que conviver com alguém melhor do que nós. Até a respiração da pessoa nos faz infeliz”.