Descobrir esses segredos do vírus é fundamental para garantir maior proteção para as pessoas numa próxima pandemia
Do Washington Post
Por que o coronavírus mata algumas pessoas e deixa outras ilesas? Como o vírus se transforma tão rapidamente? Se os cientistas conseguirem desvendar esses e outros mistérios sobre a doença, estarão preparados para conter a propagação de outras epidemias e para garantir maior proteção às pessoas contra a própria Covid, em surtos futuros.
Desde que o novo coronavírus transformou-se em pandemia, que já matou mais de 6,5 milhões de pessoas, um número cada vez maior de cientistas passou a se dedicar ao estudo da doença.
Os cientistas encontraram vírus muito semelhantes em morcegos-ferradura que vivem em cavernas remotas no Laos, no Sudeste Asiático. Até agora, porém, ninguém conseguiu traçar uma linha entre os vírus em morcegos e o Mercado de Frutos do Mar de Huanan, que vendia e matava animais vivos em Wuhan, na China, e onde muitos cientistas acreditam ter sido a origem da transmissão do virus a humanos. Várias investigações não conseguiram descartar categoricamente a possibilidade de o vírus ter escapado de um laboratório na China. A fuga de um laboratório poderia envolver pelo menos dois cenários: um, em que o vírus evoluiu na natureza e estava sendo estudado por cientistas; outro, em que o vírus foi criado em laboratório por pesquisadores examinando fatores que podem fazer com que um coronavírus se torne mais mortal ou mais transmissível. A China nega essa possibilidade.
Durante a pandemia passamos a conviver com um desfile de letras gregas – alfa, beta, delta, agora ômicron – significando variantes novas, mais contagiosas e ocasionalmente mais letais do vírus. Pelo menos parte da rápida evolução do vírus ocorreu dentro dos corpos de pacientes gravemente imunocomprometidos, onde foi capaz de permanecer, replicar e sofrer mutações por meses. É improvável que o vírus tenha terminado de sofrer mutações ou produzir novas variantes, mas os pesquisadores não têm certeza de como serão as variantes futuras.
Jeffrey Shaman, diretor do programa de clima e saúde da Columbia Mailman School of Public Health, disse que o objetivo deve ser desenvolver uma vacina abrangente que possa proteger contra todas as versões do SARS-CoV-2 – aquelas que conhecemos e aquelas que ainda estão por vir. Uma estratégia que os pesquisadores esperam para melhorar as vacinas é direcioná-las não apenas para a proteína de pico do vírus, mas também para outras proteínas virais. No curto prazo, talvez precisemos modificar as vacinas da mesma forma que fazemos com a gripe, alterando-as a cada ano.
Cerca de 1 em cada 5 sobreviventes de covid-19 nos Estados Unidos, incluindo alguns que nunca ficaram muito doentes como resultado de suas infecções, desenvolvem Covid por muito tempo. A condição em si é um grande ponto de interrogação — uma doença persistente marcada por uma variedade de sintomas, incluindo fadiga, febre, falta de ar, dor no peito, coração acelerado, dores de cabeça, dificuldade em pensar ou se concentrar, tontura e dor nas articulações. Essa condição seria causada por vírus escondidos no corpo, mesmo após a infecção aguda passar? A ciência ainda não sabe. Outra teoria é que minúsculos coágulos de sangue, remanescentes após o ataque viral ou alimentados pela resposta do corpo, continuam a ter um efeito punitivo em diferentes partes do organismo. Uma terceira noção é que os sintomas não são causados pelo vírus, mas por um sistema imunológico descontrolado.
Quando as mortes por Covid-19 são mapeadas por idade, elas formam uma escada. Quanto mais jovem o paciente, menor o risco de doença grave ou morte. Os cientistas acreditam que fatores genéticos e a quantidade de vírus que alguém tem em seu corpo podem influenciar a gravidade de sua doença, mas como alguns desses fatores se desenrolam ainda é amplamente desconhecido. O que está claro é que o sistema imunológico humano diminui à medida que envelhecemos, deixando as pessoas mais velhas mais vulneráveis a patógenos. Além disso, a Covid-19 apresenta um risco maior para pessoas já afetadas por doenças de base. Stephen Goldstein, pesquisador da Universidade de Utah acredita que as diferentes respostas ao vírus de jovens e idosos podem ter algo a ver com o interferon, uma proteína que alerta o sistema imunológico natural do corpo. “Talvez as crianças produzam mais interferon, e talvez o façam mais cedo”, especula Goldstein.