Manifestantes protestavam contra o envio de mais 300 mil soldados para a Ucrânia
Centenas de manifestantes se reuniram em Moscou e São Petersburgo para protestar contra a decisão do presidente Vladimir Putin de convocar mais 300 mil reservistas a serem despachados para as frentes de combate na Ucrânia. A polícia prendeu centenas de pessoas. Grupos de defesa dos direitos humanos informam que também foram registrados protestos em cidades da Sibéria e em Ekaterimburgo, um dos principais centros industriais do país, situado na região Leste. Segundo as denúncias, é provável que o número de prisões passe de mil pessoas.
A decisão de Putin de convocar mais reservistas ocorre diante da contraofensiva lançada pelas tropas da Ucrânia, que conseguiram recuperar parte dos territórios ocupados pelos russos.
Diante das derrotas sofridas, Putin demonstra um certo grau de desespero, o que o levou a ameaçar com uma nova e perigosa escalada no conflito. Em declaração que gerou pânico entre as populações da Ucrânia e países vizinhos, o presidente russo afirmou que não está blefando quando admite a possibilidade de uso de armas nucleares, “se isto for necessário para garantir a integridade territorial de seu país”.
Em um pronunciamento em rede nacional de televisão, Putin afirmou que este é um passo necessário porque a seu ver, “os países do Ocidente querem enfraquecer a Rússia”.
O presidente russo também anunciou um plano para anexar rapidamente quatro regiões da Ucrânia à Rússia, por meio da realização de referendos nos próximos dias. O objetivo claro de Putin é tornar as regiões Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson parte formal do território russo e, com isso, considerar qualquer ataque de países ocidentais a essas regiões como agressões ao território russo.
Estados Unidos, Alemanha e França disseram que nunca reconheceriam os resultados desses referendos feitos às pressas porque eles seriam expressões “falsas” do desejo das populações dessas regiões.
De acordo com a Federação de Cientistas Americanos, a Rússia tem 4.500 ogivas nucleares estratégicas, que podem ser mobilizadas em um eventual ataque nuclear. Elas incluem mísseis balísticos ou foguetes de longo alcance que podem ser direcionados para atingir outros países.
Desse total, 1.185 ogivas estão armazenadas ou implantadas em bases ou no mar; 800 mísseis balísticos aportados em submarinos e 580 bombardeiros nucleares.
Após as declarações de Putin, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel reiterou o apoio do bloco à Ucrânia. “O apoio da União Europeia à Ucrânia não vai se alterar”, disse Charles Michel, que representa os 27 Estados-membros do bloco.
No Twitter ele escreveu: “Nesta guerra, há apenas um agressor, a Rússia, e um país agredido, a Ucrânia. O apoio da UE à Ucrânia permanecerá firme”, reiterou.
Uma manifestação mais enfática foi feita pela ministra das Relações Exteriores do Reino Unido, Gillian Keegan. Ela disse que as ameaças de Putin devem ser levadas a sério.
“Claramente é algo que devemos levar muito a sério porque, você sabe, não estamos no controle – não tenho certeza se ele está no controle também. Isso é obviamente uma escalada”, disse a ministra britânica.