Antonio Guterres acusa empresas do setor de acumular lucros gigantescos, enquanto o mundo enfrenta alta de preços e inflação
Em discurso na Assembleia Geral, o secretário-geral da ONU, António Guterres, acusou as empresas do setor de combustíveis de acumularem lucros gigantescos, enquanto o mundo enfrenta o aumento nos preços da energia e a inflação resultante desses reajustes. Guterres também denunciou a existência do que chamou de “uma máquina de desinformação”, a serviço dessas empresas.
Como saída para esta crise, o secretário-geral sugeriu que as nações ricas criem impostos sobre os lucros das empresas de petróleo e gás e destinem as somas arrecadadas para ajudar as populações dos países pobres, que enfrentam a alta nos preços dos alimentos e da energia. Ao mesmo tempo, as taxas extras também deveriam beneficiar os países mais afetados pelas mudanças climáticas.
Em tom dramático, Guterres afirmou: “O mundo está viciado em combustíveis fósseis. É hora de uma intervenção. Precisamos responsabilizar as empresas do setor e seus facilitadores”. Segundo ele, o mundo está paralisado e despreparado para enfrentar os grandes desafios que ameaçam a humanidade e o planeta. “Nosso mundo está em perigo”, acrescentou.
A proposta de redirecionamento de recursos oriundos da indústria fóssil, já foi defendida em outros momentos pelo secretário. Porém, desta vez o plano foi detalhado por Guterres. “Os países do G20 emitem 80% de todas as emissões de gases de efeito-estufa. Mas os mais pobres e vulneráveis -aqueles que menos contribuíram para esta crise- estão sofrendo seus impactos mais brutais”.
Para o secretário o mundo carece de “uma arquitetura global” para lidar com as “tensões geopolíticas” causadas pelas novas tecnologias. Guterres afirmou: “As plataformas de mídia social são pautadas no modelo que monetiza indignação, raiva e negatividade”. E ainda no tema da tecnologia atacou a inteligência artificial, “está comprometendo a integridade dos sistemas de informação, da mídia e, de fato, da própria democracia” disse ele.
A 77ª Reunião da Assembleia Geral da ONU reuniu líderes mundiais pela primeira vez após o início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que vem resultou numa crise global, provocada pelos cortes no fornecimento de gás e alimentos e o aumento da inflação em muitos países. Esse foi um tema abordado por muitos chefes de estado presentes no evento. Guterres fez um apelo para uma “união diplomática pela fim da guerra”. Entretanto, reconheceu que pouco pode contribuir para o término do conflito. “A Carta das Nações Unidas e os ideais representados por ela estão em perigo. Temos o dever de agir. E no entanto, estamos imobilizados”.