Certos comportamentos são contagiosos e nossas interações, sejam pessoais ou virtuais, influenciam no bem-estar, no grau de felicidade e podem garantir até mesmo uns anos a mais de vida. Pelo menos é o que acreditam pesquisadores norte-americanos que partiram dessa ideia para reproduzir, nos Estados Unidos, uma prática utilizada no Japão, conhecida como Moai. Esta é a designação para os grupos de apoio, que oferecem suporte social, emocional e até financeiro aos amigos. Não se deve confundir com outro uso da palavra: Moai que também é o nome dado às estátuas construídas pelos nativos da Ilha de Páscoa, no Pacífico.

Nos Estados Unidos, os grupos ganharam o nome de Zonas Azuis e já existem mais de 60 deles espalhados pelo país. À frente da iniciativa está Dan Buettner, pesquisador e autor da National Geographic, que tem trabalhado com autoridades de saúde do país para criar e espalhar as Zonas Azuis para mais regiões.  Em seus estudos, Buettner percebeu que para que os grupos realmente funcionassem seria necessário que as pessoas tivessem interesses e valores em comum.

Onda de solidariedade também se espelha nos Estados Unidos.

Seja um grupo que se encontra para socializar, outro que se encontra esporadicamente para praticar algum exercício físico, ao mapear as Zonas Azuis dos Estados Unidos, Dan Buettner conseguiu identificar que as cidades com maior grupo de apoio e interação entre as pessoas não eram as cidades metropolitanas ou dos grandes centros econômicos. Ao contrário, eram as chamadas “elites costeiras”, regiões do Centro-Oeste do país. Em seu ranking, as três cidades com maior envolvimento social da população, que tinha efeito direto na qualidade de vida das pessoas, eram: Williamason no estado do Tennessee, Hamilton em Indiana e em terceiro lugar, Loudon na Virgínia.

A solidão e as grandes cidades

As metrópoles têm gerado não apenas a dificuldade do convívio com outras pessoas, por conta da correria do cotidiano, como aumentado o número de pessoas que enfrentam problemas mentais devido a solidão. Em 2018, o Reino Unido criou um programa governamental de incentivo de encontros entre as pessoas, após a identificação de que cerca de 9 milhões de britânicos vivem sozinhos, principalmente nas grandes cidades. Com o aumento do suicídio no país, o Japão também adotou um programa de governo, inclusive a criação de um ministério para tratar dos problemas recorrentes ao isolamento.

Tenha poucos, mas bons amigos

As redes sociais têm gerado o mito de que quanto mais seguidores, mais “amigos” virtuais você tem, mais influente você é. A verdade é que o número de amigos não garante que a pessoa tenha realmente verdadeiras e saudáveis amizades. O projeto de Dan Buettner criou um questionário para ajudar as pessoas a identificar as amizades tóxicas, não com o intuito de afastar as pessoas, mas de valorizar aquelas que são influências positivas na vida de seus amigos.

O psicólogo especializado em Terapia Cognitivo Comportamental, Ricardo Milito, diz que não é fácil perceber amizades tóxicas, quando se está no meio da relação. Por isso, é mais fácil identificar as amizades de outras pessoas do que as suas próprias. Com o intuito de ajudar a descobrir, ele cita alguns sinais de alerta: “Em relacionamentos tóxicos as pessoas não apoiam umas às outras, existe competição, o que gera uma relação constantemente desgastante. A comunicação é sarcástica, há críticas excessivas, ciúmes e a vontade de controlar o outro”.

O psicólogo especializado em Terapia Cognitivo Comportamental, Ricardo Milito, explica que é mais fácil ter empatia por aquilo que a pessoa conhece ou já viveu, permitindo assim a criação de relações interpessoais. “A gente vê que não estamos sozinhos. Vemos uma ajuda mútua, pela troca de experiência que auxilia os novos conflitos e questões. Oferece a chance de ser ouvido e favorece as relações”.